PONTES SOBRE O RIO DA VIDA
Franqueei a entrada do meu coração à amizade, lancei pontes aos meus semelhantes, para que pudessem chegar até mim… rompi distâncias e preconceitos… lancei fora de mim a timidez, como quem atira para o lixo algo inútil e estorvante… fiz, com isso, violência a mim mesma, para que outros pudessem aproximar-se, conhecer-me… por algum tempo, deu resultados - senão excelentes, pelo menos , os desejados - nesses momentos de descoberta mútua…
Nem tudo foi mau ou decepcionante… nem tudo se perdeu… nunca fui uma ilha, mesmo que às vezes me tenha sentido muito só…
Alguns frutos lograram singrar e permanecer… outros pereceram por falta de que quem os produziu, a meias comigo, fizesse a sua parte, cuidando-os…
Algumas dessas pontes ruiram, destroçadas pelos desgostos ou pela falta de interesse alheia, assim como pela maldade de certos corações que me trataram com falsidade… pelas decepções infligidas a este coração receptivo, que mais não tem feito do que convidar a entrar aqueles que se aproximam…
Às vezes, invade-me uma onda gigante de revolta e de porquês… e fico, pensativa e triste a matutar… pensando: onde é que eu falhei? O que há em mim que afasta essas pessoas? Porque pagam com maldade o carinho que lhes dei? Porque me condenam sem dó, quando falham tanto como eu? O que os terá levado a votarem-me ao esquecimento, ao ostracismo?
Mas, no meio de tanto desgosto, no jardim do meu coração, ainda vejo brilhar o sol algumas vezes, sobre alguma das flores que ainda aí existem… Agora, as flores cultivadas já são muito mais raras… mas aprendi a escolhê-las, e as pontes só são lançadas quando, na outra margem do rio caudaloso que é a sociedade, alguém me acena, disposto a lançar as suas próprias bases para construí-las a meias…
Para que o rio não impeça a Amizade de prosseguir sua existência.
Nely
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