terça-feira, 30 de agosto de 2011

DESERTO GLACIAR

“Todas essas palavras que gritamos, quando nos abandonam, que berramos no fundo do poço, mesmo sabendo que é em vão.” – Janine Boissard




                           DESERTO    GLACIAR




A incompreensão é deserto glaciar que não posso transpor… Muros invisíveis, que não me deixam passar…
Por mais que pense, não consigo entender porquê uma amizade não pode permanecer…
Sou barco encalhado num cais de onde o vento, adverso, não me deixou passar, e ficou derrotado, sem poder prosseguir…
E por mais que grite, ninguém me quer ouvir… Distância e silêncio, obstáculos que se interpõem, inexoráveis e brutais… Isolamento com que não posso mais…
Firo a alma ao tentar soltar-me do marasmo que se me impôs, nesta extensão fria que fere até o olhar… Em que dói ficar…
A névoa do esquecimento afastou de mim aqueles que me deixaram para trás… Seus vultos se apagaram na distância opaca e densa … Não os posso descortinar…
A “lei da morte”* decretaram, contra mim, em seus corações…
Dei carinho, recebi ingratidões!...

Nely
 (texto extraído do meu volume de prosas poéticas " Rubis e Safiras")


 *Nota: Camões usa essa expressão, na Proposição d’Os Lusíadas, significando “esquecimento”. Tomei a liberdade de fazer minha essa expressão, neste texto, com o mesmo significado.

ESSES DIAS

                                           ESSES   DIAS




Há dias… Em que todas as verdades nos soam como mentiras… Há dias em que a descrença se apodera do nosso coração…Em que o nosso intelecto não consegue ver mais do que a palavra NÃO…
Nesses dias… É preciso ter um ponto de apoio… É preciso uma âncora que segure o barco do nosso navegar…
Nesses dias… Queremos e não podemos sonhar! Queremos lançar, ao menos um grito, quando parece que, de emudecidos à força, vamos estoirar!
Nesses dias… Tentamos fugir, mas parece que algo nos retêm, nos persegue!... Todos e ninguém!
Há esses dias de desespero flagrante e obstinado…
Dias em cujo tempo parece parado… Mas são passageiros, esses dias…
Pois, a seguir a eles, virão melhores dias!


Nely
( extraído do meu trabalho poético "Rubis e Safiras")