sábado, 4 de março de 2017

UMA GATA ESPECIAL

História especialmente dedicada ao meu filho, Marcos Carlos:                                      



Uma gata Especial

Nascida numa casa de família, em simultâneo com uma ninhada de irmãos e irmãs de pelagem diversificada, em tonalidades e cores, Zuleica era uma linda gatinha preta, muito meiga. Porém, um dia, sendo ainda pequeninos, com cerca de dois meses de idade, ela e seus congéneres foram vítimas dos donos pouco escrupulosos, que os levaram, de noite, para fora de casa. Nessa noite, foram separados para sempre da mãe e do pai. Deixada junto com seus irmãos perto de uns armazéns, na zona norte da cidade, por ali acharam lugar onde abrigar-se, no meio de ruínas dessa antiga zona industrial.
A partir daí, com alguma sorte, apesar de tudo, no meio da desventura de se ver livrada a uma vida errante, Zuleica pôde encontrar alimento, que lhe era facultado por algumas das muitas pessoas que trabalhavam nessa zona da cidade… Antes disso, não tivera nome, pois os antigos donos nem lho haviam posto... Mas um dos empregados de armazém  que a protegera, esse mesmo lhe havia achado beleza e graça, e lhe havia dado esse nome. Ela respondia já por esse nome, quando esse seu amigo a chamava para lhe dar comida, ou para lhe fazer festas.
O tempo foi passando, e com cerca de um ano de idade, a gatinha, agora crescida e tornada adulta, viu-se cortejada por alguns gatos que já por ali andavam… Múltiplas brigas nocturnas, entre os felinos residentes da antiquíssima zona, onde, à noite, não se encontrava vivalma, lhe ensinaram o que era ser pretendida pelos vários machos que a disputavam, por entre as suas iguais, que já por ali iam vivendo… Até que, tendo-se agradado de um deles, acasalaram por fim, depois de algumas hesitações, muitas miadelas de cio de ambas as partes, e uns bons arranhões à mistura. Um dia, já pesada a barriga da gravidez, em vias de parto eminente, acolheu-se num abrigo proporcionado pelo pessoal de um dos armazéns maiores. Pessoal esse que, com o zelo de protecção aos animais, se havia lembrado de a preferir aos outros e de a mimar, e entre os quais, esse amigo que a costumava chamar e alimentar. Sorte a sua! Passadas umas horas, num cantinho mais abrigado do velho armazém, Zuleica dava à luz os seus gatinhos. Alguns eram negros como ela, de olhar mimoso, quase triste… Outros eram malhados, a três ou a duas cores, e um deles inteiramente tigrado, pardo. Zuleica cuidou dos seus filhotes o máximo possível, não se tirando do pé deles, até porque as pessoas mais sensíveis, que a haviam tomado sob a sua protecção, arranjavam-lhe sempre comida em abundância e também água, para si e seus filhotes.
Um dia, Daniel, um dos numerosos rapazes que costumavam passar frequentemente por ali,  a caminho de um dos  armazéns para os ensaios com a sua banda musical e o qual ia ter com os amigos, reparou em Zuleica e na sua linda e diversa ninhada, pois a porta estava aberta, e Zuleica saíra a apanhar sol com os filhotes, à entrada. O armazém ao qual Daniel se dirigia, e que servia de estúdio de ensaios à banda musical dos seus amigos, ficava mesmo a dois passos dali.
- Que ninhada tão interessante! - Pensou. – E se eu levasse daqui um desses pequeninos, para fazer-nos companhia, lá em casa?
Seguiu o seu caminho, a sorrir, perante a perspectiva de ter em casa um gato ou uma gata, como sempre quisera. Vivia sozinho com a mãe. O pai, Filipe, morrera quando ele ainda era pequeno.
Ao voltar para casa, nessa noite, no meio de uma conversa, ao jantar, falou no assunto a Eugénia, sua mãe, com quem vivia, e que, tal como ele, adorava animais:
- Ó Mãe! Não queres ir amanhã comigo, fazer as compras ao hipermercado, e já agora, dar uma assomadela ao atelier de pintura de t-shirts?
- Ao atelier das t-shirts? Já tens os desenhos prontos para as mandar fazer? - Perguntou a mãe, interessada.
- Já! Posso mostrar-tos depois de acabarmos de comer, ok? - Retorquiu Daniel, entusiasmado.
- Certo! E porque pensaste em mim para acompanhar-te? - Indagou Eugénia, curiosa.
- Sei lá! Estás quase sempre aqui sozinha, sais sozinha também, quase não convives, pouco te distrais… Eu sempre andei contigo, desde pequeno, para toda a parte… Agora, acho que te faria bem distrair-te um pouco. E também preciso da tua opinião para as t-shirts que quero encomendar!
Eugénia olhou para o filho, a sorrir, e disse:
- Então, está bem! Irei contigo! Talvez também possa encomendar uma para mim! Vi esta tarde, na Net, uns desenhos interessantes, que talvez a pessoa que imprime as t-shirts possa reproduzir para mim…
- Onde tens os desenhos? Guardaste-os?
- Sim, já tos mostro! - Disse a mãe, dirigindo-se ao computador de ambos, do qual se servira de tarde, a fim de fazer uma das suas muitas e costumeiras pesquisas. - Abrindo uma pasta no ambiente de trabalho do aparelho, mostrou ao filho alguns desenhos que, na sua maioria, eram moldes lindos para pintar, ainda em branco… outros, cheios de cor, eram modelos grátis de passo-a-passo para pinturas em tecido.
- -Olha para este beija-flor! Não é o máximo? E este arco-íris com o rio em baixo! Tão lindos!
- Gosto muito do beija-flor, mãe! Acho que devias levar esse, principalmente, para imprimir sobre uma t-shirt branca…
-Sim! Também prefiro esse mesmo! Mostra-me lá os teus desenhos então!
- Ora bem, aqui estão eles: as silhuetas de uma banda musical, ou seja, afinal, a minha! E vai ficar, como podes ver, sobre um fundo em preto. Que achas?
- Está giro! Acho que sobre uma t-shirt, deve ficar o máximo!
 A conversa prolongou-se um bocado pela noite dentro. Daniel perguntou finalmente à mãe:
- Ó mãe, o que achavas de arranjarmos um gatinho, ou uma gatinha, para nos fazer companhia? Há tanto tempo que não temos animal nenhum de estimação …
- Porque não? Também tenho saudades de ter um bichano cá em casa! Mas onde iríamos arranjá-lo?
- Vi uma linda ninhada hoje, lá perto do nosso estúdio da banda. Com a mãe gata. São lindos! Daí, lembrei-me! Se vieres comigo, amanhã, dá para vê-los! Estão por lá, certamente.
- Não fogem? Não são muito bravios? E a mãe? É mansa? - Perguntou Eugénia, cautelosa.
- Não, não são muito bravios! E a mãe está habituada às pessoas! É mansíssima! Penso que são protegidos por aquele pessoal que trabalha ali… estão bem tratadinhos! Muito lindos, mesmo! Posso falar com o pessoal lá do sítio! Conheço-os, vou informá-los, ou ver se por lá está algum deles, quando formos ao atelier! Quem sabe, talvez possamos trazer logo um deles para casa!
-E porque não, realmente? Ah! Ah! Ah! Que depressa tu resolves tudo! - Respondeu a mãe, divertida com a situação.
Na tarde seguinte, ambos trouxeram logo, efectivamente, para casa, uma linda gatinha, branca e malhada parda, que, a contragosto, lá se deixou apanhar, não sem algumas sopradelas e tentativas de arranhar e morder. Era um bocado bravia e bastante valente!
Puseram-lhe um nome engraçado, depois de muito bem discutirem o assunto entre si: Enid.
- Vai chamar-se Enid. – Decidiu finalmente Daniel
-Como a Enid Blyton, não é?-Perguntou Eugénia.
-Enid Blyton, a escritora! Sim! – Respondeu o rapaz, convicto.
-Aquela que é autora daqueles livros que te li quando eras mais pequeno!
-Sim! Exactamente! Eram o máximo! Mas não é por isso que lhe quero por esse nome…
-Ai não? Então?
- Estive a ler significados de nomes e descobri que Enid é um nome de origem celta e que significa “espírito, ou alma”. Assim, terá um nome mágico! E será uma gata especial… Aliás, já o é!
-Mas que interessante! Nunca tinha pensado nisso!
- Assim, se alguém nos perguntar acerca do nome da gata, temos um álibi bastante engraçado  e lógico para responder. Mas o verdadeiro significado e motivo será segredo nosso, não é, mãe?
- Muito bem pensado!Assim mesmo!
Mal sabia Zuleica, quando viu que lhe tiravam a sua linda filhota, que esta ia para uma casa especial, junto de pessoas especiais, para vir a ser uma gata muito especial! Mas Zuleica não se zangou por lhe tirarem a filha, pois sentiu logo as boas ondas da energia benévola e firme daquele rapaz, que adorava gatos, e que por todos eles era adorado. Zuleica soube, por instinto, logo à partida, que ele e a sua filhinha iriam ter uma bela relação de amizade. Ela própria gostou logo dele: Inspirava-lhe total confiança! E, ao fim e ao cabo, sabia que os filhotes não iam ficar para sempre consigo: teriam de crescer e enfrentar a sua própria vida como um desafio, como qualquer gato de rua…
Entretanto, Daniel e sua mãe tratavam de ambientar Enid, que, ainda assustada, por não conhecer nem os donos, nem a casa, escondia-se em todos os recantos possíveis e principalmente naqueles que eram menos acessíveis, onde não a podiam apanhar. Com muita paciência, no decorrer dos dias, tanto Daniel como Eugénia, sua mãe, foram conquistando a gatinha. Mas, para surpresa de ambos, quando algumas visitas vieram, cerca de um mês depois de ela viver com os donos, Enid teve um comportamento curioso e inusual: Perto da porta de entrada do apartamento, ela rosnou, eriçou-se e, seguidamente, correu a esconder-se. Isto deu-se poucos minutos antes de os visitantes chegarem. Daniel bem falou dela aos seus amigos Henrique, Joel e Dinis… Em vão! Pois ela não queria aparecer, por muito que a chamassem e a tentassem encontrar! Enquanto os amigos de Daniel se mantiveram por ali, Enid manteve-se oculta, e ninguém logrou saber onde ela se metera. Só muito mais tarde, já avançada a noite, quando só Daniel e Eugénia se encontravam de novo sós, é que ela, sentindo-se já mais segura, reapareceu.
E assim continuou a proceder, sempre que vinham visitas a casa, fossem elas quais fossem. Os amigos de Daniel acabaram por pôr-lhe a alcunha de “a gata invisível”, por brincadeira. Alcunha que vigoraria por algum tempo entre eles, até que Enid começasse a sair do esconderijo, aos poucos, e dar-se a conhecer, aventurando-se primeiro de longe. Só muito mais tarde começou a vir cheirar esses mesmos rapazes que eram visitantes usuais e frequentes da casa de Daniel.
Enid adorava o dono, e só  a ele obedecia... Eugénia era gentil com ela, e Enid consentia festas da dona, sabia fazer-se entender dela apenas com uma troca de olhares... Sabia ser mimosa quando queria... Eugénia, conhecedora de que esta bichinha era uma gatinha diferente das outras, admirava-lhe a inteligência, e falava-lhe docemente, mas tal como se falasse a um ser humano. Ela sabia perfeitamente que o dono do coração dessa gatinha, o “escolhido” por excelência, era Daniel, com o qual a gatinha tinha mesmo uma relação ciumenta.
Eugénia teve a prova disso, certo dia. Daniel recebera a visita de uma rapariga que andava doidinha por ele.
Arminda, ao entrar em casa de Daniel, reparou na gatinha e quis fazer-lhe festas. Enid esquivou-se, olhando-a de modo desconfiado. Daniel avisou-a:- Olha que a Enid não dá confiança a ninguém! Toma cuidado! Mas Arminda não acreditou muito nesse aviso:
-Ó, que gira! Mas porque é que ela foge, Daniel? Eu só lhe ia fazer umas festas...
- Deixa lá! A Enid é desconfiada! Não dá mão assim facilmente a qualquer pessoa!
-Enid? Chama-se Enid? Que nome tão estranho!
-Não te lembras dos livros da Enid Blyton? Os cinco, os sete, etc...
-Ah! Sim! Já me lembro! Mas o que é que isso tem a ver com a tua gata?
-Eu adorava os livros da Enid Blyton... Então, lembrei-me de pôr o nome da escritora à minha gata, como homenagem...
Só Daniel e a mãe sabiam o verdadeiro motivo de Enid ter herdado o nome da saudosa e célebre escritora. Não o haviam revelado, no entanto, a quem quer que fosse. Era um segredo entre mãe e filho. Mas havia um pouco de verdade naquilo que Daniel acabar de dizer a Arminda. Naquela manhã, possessivamente, Enid mantivera-se pelo quarto de Daniel, apesar da presença de Arminda, que já vinha visitando o rapaz desde havia uns tempos, sem nunca ter visto a gata antes... De repente, sucedeu algo inesperado:
-Aiiiiiiiii!!!!!! – gemeu Arminda, de repente. Sentada sobre a cama de Daniel, a rapariga acabara de ser atacada por Enid que, cheia de ciúmes em relação ao dono, reagira arranhando-a furiosamente, num movimento repentino, que nenhum deles esperava.
-Eu não te disse que ela não dá a mão?
-Mas de não dar a mão a atacar, ainda vai um bocado de distância! Safa!  Aiii! O meu braço! Dói tanto!
- Vai lá à casa de banho, lava isso, que a minha mãe já te ajuda a desinfectar!
Um largo arranhão, ensanguentado, era visível, agora, no braço da rapariga.
Passado um bocado, Arminda saíu, sob pretexto que eram horas de ir para casa almoçar.
-Ó, Daniel! – Chamou Eugénia, que acabar de pôr a mesa para o almoço deles.
- Sim, mãe!
- Anda, que a comida está na mesa!
Daniel saiu do quarto e dirigiu-se à cozinha.
-Então, filho, que foi aquilo, com a Enid e com a Arminda, há bocado?
- A Enid estava lá, sossegada, sobre a cadeira, e a Arminda estava sentada em cima da cama, ao meu lado.  Vai daí, a Arminda, que é atiradiça, e que está sempre a dizer que gosta de mim, chegou-se mais, para me dar um beijo... a Enid, que tinha vindo, sorrateira para cima da cama, por detrás de nós, sentiu ciúmes e zás! Atirou-se a ela! Depois escondeu-se!
-Esta bichinha tem cada uma! Coitada da moça! Ficou ali com um senhor arranhão!
- Deve ter ficado com pouca vontade de cá voltar, se tanto conheço a Arminda! Mas isso mostra que além de ter ciúmes, a Enid não gosta da Arminda! Vá-se lá saber porquê...
- Sabes, há bichos que se apaixonam de todo pelos donos ou donas... e é um problema, quando se trata de felinos! Todos eles são ciumentos... Lembras da história do leão, do Joseph Kessel? Um caso semelhante, mas com um leão!
-Sim ! Li essa história, há tempos... Tiveram de mandar abater esse leão, não foi?
-Exacto! Um caso sério!
-E alguns felinos são mesmo vingativos! Não se metam com eles, que eles retaliam! Até podem matar!
- Pois podem! E quando esta menina estiver com cio, veremos como se comporta!
- Pois! Se isto foi assim, agora, vamos ver se ela se mantém fiel e possessiva em tendo o cio! Ou se não desata a roçar-se dengosamente pelas visitas masculinas que cá venham!
- Uuuuiiii! Veremos!- Respondeu Eugénia, rindo. -Temos aqui uma gata especial, Daniel!
- Eu  bem sei! Tive um “feeling”* especial, também, quando a vi, no meio da ninhada, e por isso, a escolhi... Já ouviste falar de “energias”, mãe?
- Já! E sei que é verdade! Há uma energia especial nessa gatinha! Nunca vi nenhum bichano assim! Mas gosto imenso dela assim, sabes?
-Pois! Também eu! Aqui, não entra quem quer e como quer, nesta casa, com este animalzinho presente!
-É isso mesmo, Daniel! Ela é muito zelosa do seu território, do seu espaço e do dono!
- E ainda só nós é que a vimos com os olhos a refulgir com cores estranhas como faróis!
-Safa! Às vezes, nem parece uma simples gata! Parece como se nela houvesse uma alma de um ser estranho, e não uma felina doméstica!
- Também já percebeste, mãe?
-Sim, claro! Às vezes, estou para aqui sozinha, e sinto como que uma presença estranha a olhar para mim... viro-me , e é a Enid a fixar-me. Nunca desvia o olhar quando faz isso! Até custa aguentar esse olhar!
Daniel riu-se:- Já me fez isso a mim também! Percebes agora, porque lhe pus esse nome?
-Claro! Pudera! Essa gata é uma alma fora do comum dos outros animais!
- Mas quando quer, é um doce de gata!
-Sim! A mim, põe-se a piscar-me os olhos, com tal doçura, quando quer alguma coisa, que é o que eu chamo “fazer olhinhos doces”! E leva-me sempre à certa!
-Bichinha esperta! Anda cá Enid! Anda!- Chamou Daniel, com meiguice, vendo que a gatinha se mantinha perto da porta da cozinha, quieta, olhando-o.
Enid veio correndo, e esperou que Daniel lhe desse bocadinhos das sua comida, como sempre fazia às refeições.
Uma noite, estavam  Eugénia e Daniel dormindo, cada qual em seu quarto, quando Enid, ouvindo um ruído suspeito, abeirou-se da porta de entrada do apartamento, muito silenciosamente, e ficou à espreita, dissimulando-se por entre alguns objectos e móveis que ali estavam. O ruído continuou...  Daniel, que acordou nesse momento, foi pé ante pé verificar o que se passava. Alguém estava forçando a porta. Daniel tratou de acordar a mãe, o mais silenciosamente que podia, e pegou no telemóvel para ligar para a polícia. Entretanto, a porta cedeu e o assaltante tentou entrar... Não contava certamente com Enid que, percebendo o seu intento, se lhe atirou, saltando, de cima de um móvel, e se agarrou a ele com as patas de trás a cravar-se-lhe nas roupas, enquanto com as patas dianteiras e  com a boca, lhe atacava a garganta com quanta força tinha... Enid já havia crescido bem, e ficara com um corpo maciço, bem desenvolvido. O peso considerável da gata desequilibrou o ladrão, que caiu de borco, com a gata a traçar-lhe a garganta e acabando-lhe instantaneamente com a vida... A polícia, chamada entretanto, acorreu pouco depois. Dois agentes, que faziam a sua ronda ali perto, chegaram escassos minutos depois de o homem morrer às garras e dentes da gata. Depois de examinarem o homem, e constatar-lhe a morte física, trataram de interrogar os donos da casa, e concluíram, falando com Eugénia:
- Este homem vinha armado... A senhora conhecia-o?
- Não! Nem nunca o vi!
-Pois, minha senhora, nós já o tínhamos assinalado como um perigoso assaltante... – disse um deles.
-Pelos vistos, veio ter à casa errada para ele, e no momento errado! Deu-se mal! Quem o feriu assim?
-Foi a nossa gata Enid!-respondeu Daniel.- Enquanto eu acordei, com o ruído da porta a ser forçada, e tentei acordar a minha mãe, a Enid ocupou-se do assaltante, pois eu vi que ela estava à espreita ao pé da porta. Só tive tempo de ligar ao posto, aos vossos colegas... Entretanto, foi tudo muito rápido: ele conseguiu forçar e abrir a porta e a Enid atirou-se instantaneamente a ele! Ele desequilibrou-se e caiu, mas ela só o largou quando o viu morto!
-Valente gatinha! – disse o outro agente. – Em casos destes, costumamos abater os animais, por causa do dano a nível humano... Mas este animal merece ser conservado com vida, pois, graças a esta gatinha, este perigoso bandido não voltará a fazer nada contra ninguém! E, também, ela foi a vossa protecção! Merece continuar a sê-lo! Onde está a vossa gata? Não está visível...
-Ela costuma esconder-se das pessoas estranhas e das visitas... Ah! Cá está ela: anda cá Enid!- Disse Daniel. Enid foi chegando mais perto do dono, mas não se deixava tocar... rosnava, e recuava.
-Ainda bem que ela é assim! É sinal que é uma boa guardiã do vosso lar! Vocês tiveram sorte de a ter convosco! Foi a vossa salvação! Agora, devemos chamar os nossos colegas da peritagem, um médico legista, e também uma ambulância, para levar daqui o corpo, depois de feitos os exames necessários...
Passadas umas horas,  depois de tudo isso tratado, e de o corpo do bandido ter sido também levado, os polícias despediram-se, finalmente, deixando mãe e filho a sós. Eugénia, com os nervos em franja, por todo esse reboliço, cansada por tudo o que se passara e pela falta do sono perdido,  foi então para a cozinha, preparar uma cafeteira de chá, e torradas, para tomarem ela e Daniel, afim de lhes acalmar os ânimos, e a fome que sentiam ambos . Enid já estava ao colo dele, ronronando. Depois disso,  Eugénia, com a ajuda de Daniel, foi arrumando aos poucos, a entrada de casa, e limpando o chão, no sítio onde o sangue do assaltante tinha deixado rastos. Quando tudo já estava em ordem, e bem limpo, voltaram para as respectivas camas... Nesse dia, não iriam fazer nada mais, antes de dormir o necessário, pois estavam ambos a precisar de descanso. Enid trepou para a cama de Daniel, como sempre, enroscou-se junto ao rapaz, e ronronando, adormeceu.



FIM

Nely, Março de 2017

Advertência: Toda e qualquer semelhança com factos e/ou pessoas reais é apenas isso. Esta história é totalmente ficcional. A menção do nome de Enid Blyton é para dar um pouco de ênfase ao conto.O significado desse nome é real, segundo pesquisas efectuadas pela autora do conto. A história referida de Joseph Kessel também é real.






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