sexta-feira, 24 de março de 2017

CONTO "ESCOLHA DÍFICIL"

“Apesar de toda a felicidade imensa que nos espreita, sentimo-nos tristes quando partimos, porque deixamos sempre alguém para trás.” – Hervé Villard


ESCOLHA DÍFICIL

Sabina, sentada na cozinha, olha pela janela, pensativamente... é de noite, ainda... quatro horas da manhã... O dia ainda tarda, e ela, com insónia, como em tantas outras noites, levantou-se, cansada de andar às voltas na cama, sem dormir... Na sua frente, sobre a mesa, está a caneca de chá de tília que acabou de preparar, e uma lata de biscoitos dinamarqueses, comprada há dias, num dos vários hipermercados da cidade... Apenas mais um modo de conjurar o sono, que não vem...
Há poucas horas atrás, de tarde, esteve com Graciano, que, mais uma vez, lhe proporcionou umas horas encantadoras de convívio... Um convívio cheio de doçura, de música, de diversão... Aquele homem é um encanto: Belo, inteligente, culto, detentor de uma extrema elegância  e de muito bom gosto, na sua apresentação e no vestuário que usa... Sabina pensa nele, revê mentalmente o momento em que Graciano lhe falou de casamento... Graciano é dono de uma bela fortuna. Solteiro. Lindo!... Nada lhe faltaria, se aceitasse casar com ele! Nada... a não ser, talvez, sexo! Graciano acabou de confessar-lhe que há pouco tempo, ficou impotente!
Sabina adora-o, desde que o conhece... Foi como que um amor à primeira vista, como se eles se conhecessem há milénios e se reencontrassem por fim. Como decoradora de ambientes, de interiores, Sabina Menezes já possui algum renome, em Cascais, onde vive actualmente, e não só. Nessa qualidade, ela foi requisitada por Graciano, para lhe redecorar a casa, uma esplêndida vivenda, nos arredores de Almada. A partir de aí, foi nascendo um são convívio, uma bela amizade... Ao nível das ideias, dos gostos, da cultura, Graciano é a sua alma gémea... Até bem que poderia ser o seu amor platónico! Desde há uns meses que se conheceram, têm conversado sobre tudo um pouco, mas ele nunca se tinha decidido a confessar-lhe esse seu segredo inconfessável! Na sequência de um tratamento a um problema grave de saúde, Graciano ficou assim, há pouco tempo... Que lástima! Ele tem desgosto em já não poder, actualmente, satisfazer plenamente nenhuma mulher... Mas apaixonou-se por Sabina,  que se lhe tornou, a pouco e pouco, irresistível, com  as suas belas curvas sensuais e generosas, os seus cabelos ruivos longos, fartos, e bem cuidados, a sua pele muito branca, quase leitosa, os seus olhos cor de mel, grandes e amendoados, e aquela boca carnuda que, a ele, tanto lhe apetece beijar! Ela tornou-se-lhe mesmo imprescindível, também a nível emocional e de comunhão de ideias e conhecimentos. Graciano ama-a tanto, que não se importou, por fim, de lhe contar o seu comprometedor segredo, pois vê nela uma boa confidente, e também uma amiga compreensiva. Graciano já percebeu que Sabina não é o género de pessoa que conte a outrem aquilo sobre o que lhe pedem sigilo, nem outras confidências ou conversas: ela mesma é o tipo de pessoa tão reservada, que nada conta de sua própria vida a ninguém! E para poder pedi-la em casamento, ele tinha de ser sincero! Graciano achou que Sabina não se importaria com esse pormenor. Que, certamente, hão-de achar para ambos uma boa solução, caso ela aceite casar-se com ele. Sendo um homem de carácter altruísta, não se importa de não poder ser satisfeito sexualmente ele próprio... Propõe a si mesmo dar-lhe a ela toda a satisfação possível! Falaram sobre esse ponto, e ela sabe que, se ele lho promete, fará tudo por cumprir... Mas a jovem mulher tem sérias dúvidas sobre essa questão delicada.
Sabina está agora perante um grande dilema... Pediu uns dias para pensar na proposta de Graciano... Essas decisões não se tomam assim, de repente... Para ela, Graciano representa o amigo e companheiro ideal, que a incentiva  a cultivar-se, que a rodeia de mil cuidados e atenções, e se propõe mimá-la de todas as formas possíveis... Mas saber que, possivelmente, não vai poder fazer nada de jeito, na cama, com ele, para Sabina, é  algo que a deixa decepcionada... Pensava que um pedido de casamento pudesse vir, da parte dele, mas não essa sua confissão de impotência... E agora, o que fazer? Tentar levá-lo, na mesma, para a cama? Tentar descobrir se ela consegue fazê-lo sentir prazer, mesmo assim? Que situação injusta! Logo a acontecer com Graciano, que é a generosidade em pessoa!Ele deve estar a sofrer no seu amor próprio, na sua dignidade de homem, certamente!- Pensa Sabina. Ao fim ao cabo, adora-o. E pensa que, caso ele a satisfizesse, ela quereria retribuir-lhe, dar-lhe, a ele, o prazer devido e merecido, também. Será que ele não tem mesmo cura?
Todas essas interrogações a fazem ficar sem sono... Caramba!
Mas não é só o que se passa com Graciano que a aflige: Por outro lado, existe também aquele seu caso já antigo com Jerónimo, aquele “affair  sexual” que mantêm, às escondidas, com ele, já há alguns anos... Apenas sexo: Encontros decididos por ambos, certos, com periodicidade semanal... Sexo louco e apaixonado, por umas horas, que os deixa, a ambos, satisfeitos e esgotados... Depois, cada um vai à sua vida, como de costume... Sem outros compromissos... Jerónimo também é um belo homem, de tipo atlético, viril... E mostra-se louco por ela... mas ainda não lhe propôs, nunca, casamento: gosta do caso de ambos assim, como está... Já abordaram o assunto muitas vezes. Ele sempre foi categórico, mostrando-se irredutível sobre essa questão. Até que Sabina, por fim, desistiu de o fazer mudar de ideias... Jerónimo aprecia a sua própria liberdade, por cima de todo o resto...  Todas as semanas, ou quase todas, eles encontram-se, no meio de uma agenda cheia, de compromissos de trabalho e de negócios, de parte a parte...
Sendo Sabina solteira, também, e de trinta e seis anos, é livre, independente. E gosta, também ela, da sua própria liberdade... Na actualidade, não tem nenhuma amiga confidente: cada uma das suas amigas de antes foi à sua vida, e já nem se encontram, sequer... Se não fosse Jerónimo, e, há pouco tempo, Graciano, ela quase não teria, sequer, um pouco de vida social... As horas passadas com Jerónimo têm compensado, parcialmente, as suas carências afectivas e sexuais. Sabina tem adorado cada  momento íntimo com ele. Ele tem sabido dar-lhe prazer de forma única... E ela adora isso! Não pode já passar sem esses doces e luxuriosos momentos de entrega física total... Ele não será, decerto, tão rico como Graciano... Mas tem o que, a Graciano, infelizmente, agora, lhe falta... Ela quer, por um lado, tudo aquilo que Graciano lhe pode proporcionar, mais a sua glamorosa companhia, tudo aquilo que ele é, e o que faz com ela... Mas, para obter tudo isso através de um casamento, terá de renunciar a essa sua relação clandestina com Jerónimo... e também lhe custa ter de abrir mão da satisfação física que ainda recebe dele, do carinho que os une...
O ideal, era manter-se ainda assim, por algum tempo... E usufruir dos dois! Mas não pode ser! A sua integridade moral não lho permite! Ambos na casa dos quarenta anos, solteiros, sem compromisso, eles são belos homens, cada um no seu género: Graciano Meirinhos, loiro, de olhos esverdeados... O típico gentleman nórdico, encantador, cheio de carisma... herdeiro aristocrático, tão rico, que nem precisa de trabalhar... Jerónimo Palmeira, de olhos escuros, cabelo negro, estilo latino... Corrector de câmbios e executivo de negócios, muito bem sucedido, ligado à Bolsa de Valores Europeia... Um ás a fazer dinheiro! Um vulcão na cama!
Graciano desconhece que Sabina tem um amante... Jerónimo desconhece ainda que Sabina acompanha com Graciano... Ela tem conseguido, desde há meses, e também nestas últimas semanas, manter cada um deles desconhecido e ignorado do outro, no tocante à sua relação com ambos... Mas até quando poderá permanecer nessa dualidade? Alguma vez terá de se decidir... Tem medo que ambos descubram... Tem receio que nem um, nem outro, queiram continuar o seu respectivo relacionamento com ela, caso descubram o seu duplo envolvimento... Sente-se dividida! E receia ficar sem nenhum deles... Vai ter, por força, de escolher um deles e deixar para trás o outro, por muito que lhe custe...
 Passados alguns dias...
- Preciso de uma resposta da tua parte, Sabina! Ainda que não te queira pressionar, já não aguento a incerteza, querida! Já te decidiste?
- Já! Aceito a tua proposta, Graciano!
-Ah! Finalmente, querida! Fico feliz de ouvir isso! Tens mesmo a certeza?
- Tenho, meu querido!
Isso tudo é dito com intercâmbio de olhares doces entre ambos, e em tom carinhoso, de ambas as partes.
Estão na sala de estar da casa espaçosa e luxuosa de Graciano, o qual convidou Sabina mais uma vez, para ali lanchar com ele, com o pretexto de saber finalmente a resposta da jovem mulher, por quem é absolutamente louco. Sentados lado a lado, no grande sofá de assento forrado a seda adamascada cor de mostarda, naquele salão de ambiente clássico, e luxuoso, que ela decorou há pouco tempo, a seu gosto, ele toma as mãos de Sabina entre as suas, erguendo-as, e depositando nelas vários beijos.
- Verás que não te vais arrepender, minha adorada! Meu anjo! Vou fazer tudo o que esteja ao meu alcance para tornar-te feliz! Vais ver!
-Então e a questão da nossa intimidade física, como vamos resolvê-la, amor?
- Não te preocupes com isso, minha linda Sabina! Há-de resolver-se bem!
-E que tal, se procurasses um sexólogo? Talvez indo consultar médicos diferentes, obterias outros pareceres?... Quem sabe isso terá alguma solução viável, e esse médico teu não a conheça... Ao fim ao cabo, ainda és um homem novo, há mais esperança do que se já tivesses passado dos cinquenta ou sessenta anos...
- Pode ser! Uma vez que me encorajas a isso, fá-lo-ei, querida! Obrigada pelo apoio! Sinceramente! Em todo o caso, haverá sempre uma solução, até mesmo para termos filhos! Queres ter filhos, Sabina?
-Claro que quero!... Isto é, se ainda puder tê-los... Sabes que a idade avança, e isso é um factor de acréscimo de dificuldade, para qualquer mulher, a partir dos trinta anos em diante!
-Sei, pois! Mas, se não pudermos, por essa razão da tua parte, ou por impotência minha,  adoptamos um!
-Está bem! És muito prático, meu querido Graciano!
-Claro que sou! E o caso é que tenho meios para sê-lo! Então, querida, podemos dar os passos necessários para tratar do nosso casamento?
-Podemos!
- E posso beijar-te, finalmente?
- Claro que sim!
Graciano chega-se mais junto a Sabina, e envolvendo-a em seus braços, pela primeira vez, abraça-a e beija-a nos lábios, longamente. Nesse beijo, há ternura, há uma doçura inexcedível, da parte de Graciano. Sabina corresponde-lhe com muita ternura também. Ela está a começar a apaixonar-se por Graciano.
Depois, olhando-a com meiguice, ele diz-lhe:
-Espera aqui um pouco, Sabinita! Tenho uma surpresa, um presente para ti, meu amorzinho!
Graciano sai do sofá, levantando-se e dirigindo-se ao seu escritório que é contíguo àquela sala, e a que se acede por uma porta muito bem disfarçada, na parede forrada a tecido de motivos grandes de medalhões, nas mesmas tonalidades que o mobiliário ali disposto.
Graciano abre essa porta, entra no escritório de que Sabina conhece cada pormenor, tendo sido ela quem o decorou, como todo o resto da bela e espaçosa vivenda. Sabina ouve-o remexer em objectos, ouve os estalidos metalizados do código do cofre ali instalado. De novo, os mesmos estalidos, e, passados segundos, Graciano reaparece à porta do escritório, com uma caixa de veludo azul escuro nas mãos. Ele fecha a porta, atrás de si, e dirige-se com ar de mistério a Sabina. Finalmente, de caixa nas mãos, senta-se de novo a seu lado.
Sabina olha-o, na expectaviva. Sabe, por intuição, que ali está uma jóia. Mas o quê?
Graciano satisfaz-lhe a curiosidade de imediato, sem nada dizer, e abrindo o delicado invólucro. Dentro da caixa, forrada interiormente de cetim azul escuro, expõe-se um lindo colar de pérolas, de uma só volta, mas de muitas pequenas esferas brancas, de brilho alvo.
-Então, meu amor? Gostas da surpresa?- Pergunta Graciano,  sondando-lhe a expressão do rosto. Sabina, apanhada de surpresa, gagueja, coisa rara nela:
-Eu... Estou... s...sem... p...pal... avras! Não... não... esta...va à espera d...disto!
Lágrimas de emoção saltam dos olhos emocionados de Sabina.
-Então, querida? Que foi? Acalma-te lá!
- Graciano... como sabias... que eu... gosto... de... pérolas?
Entretanto, Graciano tira o colar do seu delicado escrínio, e passa-lho ao pescoço. E responde:
- Calculei... Já te vou conhecendo, querida! Já vou sabendo das tuas convicções, dos teus gostos, da tua personalidade! E a ti, o que te fica bem, são as pérolas, Sabinita! Vem cá, querida! Vem ao espelho, a ver o efeito que elas produzem em ti!- Graciano diz-lhe isso, tomando-lhe as mãos, e fazendo-a levantar do sofá, delicadamente.
Sabina obedece e deixa-se conduzir a um lindo espelho clássico de moldura dourada que existe numa das paredes dessa divisão. As mãos de Graciano, com delicadeza, a tocam nos braços e a conduzem a ver a sua imagem reflectida no espelho. Sabina gosta do que vê.
-Sabes o que dizia a Coco Chanel, acerca do uso de jóias, pelas mulheres, meu amor?- Pergunta Graciano.
- Sei, querido! Ela dizia que a finalidade do uso de jóias, na toilette feminina, não era para que as mulheres parecessem ricas, ou exibissem riqueza, mas sim para que tivessem com elas um ar mais sofisticado!
-Exactamente!
-E por isso, contam, numa das suas biografias, que a Mademoiselle até lançou a moda das jóias falsas, de pechisbeque, para que todas as mulheres tivessem acesso a adornos que estivessem ao alcance dos seus meios financeiros...
- Mas estas não são pechisbeque, fofa! São verdadeiras! Tenho meios para te oferecer jóias autênticas e tudo o que seja preciso, mas de marca genuína! E tenho-te ainda a dizer: Bravo!Também leste essa biografia! Vejo que temos mais e mais afinidades a nível das ideias, e da nossa cultura, em comum! És mesmo a mulher ideal para mim!
-Partilhamos os mesmos pontos de vista e os mesmos conhecimentos! Que bom! Comunhão perfeita de ideias!
-E cada vez estou mais apaixonado por ti!
- E fazes com que eu também me sinta assim, Graciano!
Um novo abraço, e um beijo prolongado os faz expressar o amor nascente entre ambos.

Dias depois, no encontro semanal com Jerónimo, e após terem feito amor como de costume, eles conversam:
- Encontramo-nos na próxima sexta-feira?
- Não vai dar...
- Ora essa! Porquê?
- Porque o nosso caso tem de ter um fim... E tem de ser já!
- Que conversa é essa, agora? A que vem isso? O que te deu, Sabi? Enlouqueceste?
- Vou casar!- Declara sem rodeios Sabina.
- Vais... o... quê?- Exclama, com ar incrédulo, Jerónimo, que desata a tossir, porque se engasgou com o fumo do cigarro que estava a inalar, nesse momento mesmo, e foi completamente apanhado de surpresa.
- Vou casar!- Repete ela, muito calma e naturalmente, sem alterar nada no seu tom de voz, nem nos seus modos.
- Como assim, casar? Com quem?
- É muito simples: Há meses, conheci pessoalmente o Graciano Meirinhos. Solicitou-me que redecorasse a sua vivenda. Entretanto, fizemos amizade, e ele já me convidou várias vezes para festas que tem dado nessa sua casa. Tenho aceitado esses convites. Convivemos muito. Chegámos a esta conclusão: Ele gosta de mim, e eu dele. Ele propôs-me casamento há uns dias atrás e eu aceitei!
- M...!Então e eu?
- Tu nunca quiseste modificar a nossa relação!
- Mas já te dei mil provas de gostar de ti!
- Mas não me deste a que eu mais esperava: querer casar comigo...
- Então, pretendes mesmo casar com ele?... E a nossa relação, como fica?
- Muito possivelmente, acaba aqui e agora, este nosso costume de encontros secretos... Isto não pode continuar... Será melhor deixarmos de nos encontrar a sós...
- Tens a certeza? Olha que, se acabarmos, eu já não vou voltar atrás...
-Paciência! Agora, a minha decisão está tomada, e já dei a minha resposta ao Graciano! Também não penso voltar atrás! Ele ficou muito feliz! E eu também estou!
- E eu que me f...! Mas que bem!E, já agora, responde-me uma pergunta... Tenho todo o direito de saber: já foste para a cama com ele?
- Não, não fui! Não te traí, se é isso que receavas! Até há pouco, tem sido uma relação de amizade, a que tenho desenvolvido com o Graciano... Mas agora, descobrimos que estamos apaixonados os dois!
- Bom, pelo menos isso! Ainda tens bom fundo, Sabi, como sempre achei que tinhas! Mas dói ouvir uma notícia destas! Caramba, se dói! Apanhaste-me completamente de surpresa! Não estou minimamente preparado para ficar sem ti!
- Calculo que não, meu amor! Sei bem que custa! Eu mesma até perdi o sono com esta história! Não sabia o que fazer, nem como tratar desse assunto... Jerónimo, tu bem sabes o quanto eu ainda gosto de ti! Mas, infelizmente, não quiseste, até à data, assegurar este amor com uma união legítima...
-Mas tu sempre aceitaste as minhas condições... Julgava que não te importavas, já!
- Não tinha mais remédio! Preferia isso do que perder-te...
 - Mas, agora, já não te importas de ficar sem mim, não é?
- Acredita que me custa imenso ter de deixar de me encontrar contigo... Mas, por muito que me doa, tive de escolher! Não iria conseguir continuar assim! A sentir-me dividida! E a fazer-te mal a ti, e a ele! Não tenho esse direito! Não me sentiria bem traindo-te a ti com o Graciano, mas também não me sentiria bem, traindo-o, a ele, contigo! Podemos, no entanto, continuar sendo amigos, se quiseres...
- Obrigada pela esmola, pá! E, já agora, sê feliz! Espero que ele te satisfaça tanto ou mais do que eu!- Exclama Jerónimo, frustrado.
-Veremos! Mas, não é só a parte do relacionamento físico que conta! Ele e eu temos muitas afinidades! Jerónimo, tenta compreender o meu lado! Tenta pôr-te um pouco no meu lugar...
- A culpa é toda minha, bem sei! Agora, vou perder-te! Tudo isso, por causa do meu egocentrismo, do meu egoísmo! – Exclama de novo Jerónimo, virando-se de barriga para baixo, de punhos cerrados, dando socos na cama. -Bem vejo, agora, o quanto errei! Mas agora, é demasiado tarde! – Depois, mais calmo, olha para Sabina e pergunta, em tom mais ameno:- Então, é um adeus, que estamos a dizer um ao outro, sendo assim?...
- É sim, Jerónimo!
-Por favor, Sabi, deixa-me amar-te uma última vez!
-Está bem, querido! É um presente de despedida! Perdoa-me! Não posso continuar assim!
- Entendo! Tens razão! Vou ter muitas saudades tuas!
- E eu também! Nunca te vou esquecer, Jerónimo!- Diz Sabina, de lágrimas nos olhos.
-Nem eu a ti, Sabi! Vem cá, querida!
Recomeçam a amar-se, com a consciência de ser a última vez que o fazem...
Uma hora depois, ao sair daquele lugar, por última vez, cada qual vai para sua própria casa. Sabina telefona a Graciano e ele vem buscá-la, algumas horas mais tarde, para irem jantar juntos. Na sua mente, há este pensamento: já que ela teve de perder um amor, por ter de enveredar por outro caminho, quanto mais depressa o conseguir esquecer e substituir, melhor será! Apostada em levar a cabo o seu plano de restabelecer a plena sexualidade do seu  actual noivo, Sabina começa, desde logo, a utilizar todos os meios de sedução física ao seu alcance. Quem sabe se ele, seduzido, não logra entusiasmar-se e conseguem fazer amor os dois, com sucesso?

Passaram dois meses sobre o sucedido. De casamento marcado com Graciano, e quase a cumprir-se, Sabina entregou-se-lhe de corpo e alma, tornou-se-lhe fiel, e nunca mais se encontrou com Jerónimo. De pleno acordo com o seu noivo, decidiram ambos que ela continuará a ser decoradora de interiores, como antes. Graciano apoia, plenamente, essa sua decisão, de se manter activa. Os amigos e conhecidos de Graciano já andam a solicitar-lhe, também eles, que a bela e talentosa decoradora lhes trate da remodelação das suas habitações. O que lhe concede, a ela, bastante projecção profissional e social, e lhe garante uma ocupação útil,  e satisfatória. E já não tem mãos a medir para o trabalho que lhe surge. Mas ela adora a sua profissão! Por seu lado, Jerónimo, sozinho, remói os remorsos de ter perdido, por seu único e exclusivo comodismo, a sua bela amante... Vai levar algum tempo, certamente, até encontrar quem a possa plenamente substituir... Se alguma vez o conseguir!
Graciano, felizmente para ele e para Sabina,  descobriu, ao ter intimidade física com ela, que a sua impotência, afinal, tinha cura, pois conseguiu, não só satisfazer a sua amada, mas também ele obteve já o prazer desejado. Está feliz.Vão poder amar-se plenamente, tentar ter os filhos que ambos desejam... e ser felizes juntos, em todos os aspectos. Para Sabina, foi difícil, e até mesmo penoso, decidir entre os seus dois apaixonados, e renunciar a Jerónimo. Mas, finalmente, está feliz com a escolha que fez.


FIM




Nely, Março 2017

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