segunda-feira, 6 de março de 2017

SONHOS TORNADOS REAIS


Conto Romântico- do meu livro de contos "Amor e Aventura":

SONHOS TORNADOS REAIS

Era um Sábado de manhã. Uma manhã de Primavera soalheira. Quase na hora do almoço. Nesse dia, Irene e a mãe, Eulália, haviam decidido, entre as duas, não abrir a loja de florista da família. Era uma pequena excepção, no quotidiano delas. Estavam a precisar de uma folga um pouco maior, para poderem ir às compras cedo,  e depois, fazerem o almoço entre as duas, também. Mãe e filha tinham uma belíssima relação. Eulália tinha cinquenta e um anos, e Irene acabava de cumprir vinte e cinco.
Ao chegarem a casa, minutos antes, tinham-se deparado com uma visita que, nos últimos tempos, vinha sendo cada vez mais frequente: um colega de seu pai. Mickael Lacerda trabalhava na mesma empresa do que Armando Miranda, embora este fosse cerca de vinte anos mais velho do que Mickael. Davam-se ambos bastante bem, e haviam mesmo feito amizade. Por isso, Mickael frequentava, desde havia algum tempo, e de modo já bastante assíduo, a casa do colega Armando Miranda.
Mas, naquele preciso momento, Mickael estava já de saída. Aproximou-se de Irene, sorrindo, a despedir-se:
-Até logo, Irene!
-Até logo, Mickael!- Respondeu Irene, a sorrir também . Ela simpatizara bastante com ele, desde a primeira visita que ele havia feito ali, quando Armando apresentara o rapaz à esposa e à filha. Irene já havia notado, além disso, que ele também simpatizara com ela, desde a primeiravez em que se haviam encontrado frente a frente...
Poucos instantes antes, ficara combinado entre Mickael e Armando que o rapaz voltaria à noite, para jantar com eles. O pai não dissera, ainda, todavia, diante de Irene, o porquê. Como já não era a primeira vez que ele ali era, para almoçar, ou jantar, convidado, Irene também não estranhou saber que o voltaria a ver, daí a umas escassas horas.
Na verdade, Mickael, que, tanto como Armando, não trabalhava ao fim de semana, fora ali para ter uma conversa franca e sincera com o amigo e colega, afim de expôr os seus sentimentos para com a filha de Armando. Mickael gostava bastante de Irene, e queria sondar o terreno em relação à possibilidade  de namorar e ter uma relação séria e duradoira com a jovem. Para isso, abrira-se com o pai dela, em primeiro lugar. Mas Armando, cuidadoso, não quis dizer nada de imediato, a esse respeito, diante da filha. Durante a conversa tida entre ambos, compreendera o amigo, aprovara as suas boas intenções, e aconselhara-o a sondar, directamente, a própria Irene,  para saber qual a reacção dela. Armando conhecia suficientemente Mickael, para perceber que o rapaz tinha boas intenções e respeitaria a sua filha e a família em si. Pois era uma pessoa com carácter, respeitador, trabalhador e honesto. Já não se encontravam muitas pessoas como ele, por entre as camadas mais jovens. Armando aproveitou um momento em que a filha  entrara em seu próprio quarto, para fazer pequenos gestos expressivos e insinuantes a respeito de Mickael, na direcção da esposa. Esta percebeu logo, com poucas palavras, ditas em voz bastante baixa, de que se tratava, e concordou com um aceno de cabeça.
Irene, por seu lado, ficara, também, a pensar em Mickael.  Ele era um homem belo, ainda jovem,  muito atraente e simpático: Moreno, de cabelos pretos curtos e ondulados, olhos castanhos, feições agradáveis, estatura média, bem proporcionado. Sempre bem vestido, ainda que com um estilo jovem e descontraído. Tinha uma presença marcante. Mickael, à saída, ao despedir-se dela, havia pouco, tocara discretamente com uma das mãos num dos braços dela, numa evidente carícia furtiva. Ela notara claramente, no olhar dele, que o rapaz gostava dela. Havia, agora, entre ambos, uma atracção crescente.   Ela lembrava-se de que, dia antes, ele ali tinha estado, e dirigira-lhe incessantes olhares doces. E há pouco, também. Isso agradara imenso à rapariga, que compreendera a mensagem muda, e esperava, agora, da parte dele, atitudes um pouco mais expansivas, mas talvez tivesse que dar-lhe tempo... Talvez ele fosse um bocado tímido... Ou se sentisse ainda pouco à vontade com ela...
Que sabia Irene a respeito dele? Tudo quanto era possível saber: Que ele tinha trinta e cinco anos – dez a mais do que ela, facto com que ela não se importava nada.  Que era solteiro. Um ponto a favor do que Irene esperava agora dele. Não se lhe conhecia nenhuma namorada actualmente. Tanto melhor, pois significava que estava disponível para uma possível relação entre eles.Trabalhava na mesma empresa que seu pai. Ela tinha, assim, acesso a informação mais directa a seu respeito. Era filho de famílias conhecidas e consideradas como “gente capaz”. Então, era, tanto quanto possível,  fácil de conhecer os seus antecedentes. Sabia também que o pai o considerava como um homem responsável, trabalhador, e excelente colega. Uma simpatia de pessoa! O pai também afirmava, sempre que dele se falava,  que Mickael era uma pessoa de carácter, e sincero. Ela também confirmara isso, a pouco e pouco. Então, estava presentemente na posse de toda essa informação, a respeito daquele que era, agora, o alvo das suas expectativas de rapariga solteira, pretendendo um namorado digno de ser considerado “em condições” para casar.
Irene não costumava intrometer-se muito nas conversas, quando ele ali aparecia, e que ficavam a conviver, ele, ela,  e seus pais. Até porque Irene também tinha as suas próprias amizades, por entre colegas dos tempos de escola, e de universidade, para além de alguns amigos e amigas de infância. Isso fazia com que, fora do seu horário de trabalho, também saísse bastante, ainda, com algumas dessas suas amizades. No entanto, ela simpatizara já bastante com Mickael, não sabendo até à data, ao certo, se devia esperar dele que a visse como uma amiga, apenas, ou algo mais... Mas não podia negar que o sorriso dele, o olhar franco e directo, as suas maneiras, para com toda a família, agradavam-lhe bastante. E não desdenharia dele se, daí em diante, Mickael lhe pedisse para serem namorados... Porém, agora, tinha mesmo a certeza que ele tinha algo mais a transmitir-lhe. Só perguntava a si própria quando é que ele se decidiria a abordá-la acerca disso...
Foi então que, à mesa, Armando, virando-se para a filha, disse de modo directo e explícito:
- Convidei o Mickael, para vir jantar connosco, logo à noite. Irene, vê se consegues não te atrasar! Sei que ele engraça bastante contigo! Ficávamos mal vistos, se não estivesses cá a horas, para jantarmos todos juntos!
- Claro que não me vou atrasar, pai! Eu também engraço com ele, se queres saber! Vou sair um pouco esta tarde, porque tenho uma saída já combinada com a Marta e a Sarita. Mas não vai ser muito demorada! Apenas um pequeno convívio! Cerca de uma ou duas horas, nada mais!
- E além disso, eu também vou precisar de ti, para ajudar  a preparar o jantar!- Acrescentou a mãe.
-Claro que sim, mãe! Podes contar comigo!
A tarde passou rapidamente.  Depois de regressar a casa, Irene, conforme prometera,  ajudou a mãe a elaborar uma parte do jantar, e a pôr a mesa.
Eulália  aproveitou, então, que estavam as duas sós na cozinha, já que Armando estava no quintal a fazer grelhados, e Mickael ainda não chegara. Falou com a filha, a respeito do rapaz:
- Não me tem escapado o modo como o Mickael olha para ti, Irene... Cá por mim, ele está apaixonado! Não achas?
-Talvez! Eu também já reparei! Até o pai se apercebeu! Mas, se ele gosta realmente de mim, não deveria manifestar-se, dizer-me alguma coisa?
- Pois sim! Pode ser que ainda diga!
- Não achas muita a diferença entre as nossas idades, mãe? Dez anos...
- Não! Que ideia!
- Eu, pessoalmente, não me importo nada com isso! Mas, e tu e o pai?
- Nós? Não! Com trinta e cinco anos, ele ainda é um jovem! Ainda para mais, sendo tão bom moço, solteiro, trabalhador, responsável... E já tem maturidade! Não é um criançolas, nem um bandalho qualquer! É um excelente partido! Queres mais? Ele gosta mesmo  de ti... Nota-se-lhe na cara... Gostas dele, Irene?
-Bem... a dizer verdade... sim! – Admitiu a rapariga, ruborizada.
-Tens vinte e cinco anos, és uma jovem! Mas, também já tens idade mais que suficiente para teres um namorado a sério, e até mesmo para casar!
-Casar? Eu? Tão cedo?
-Qual é o espanto? Eu casei mais nova do que tu!- Replicou a mãe, olhando-a nos olhos, e parando no meio da cozinha, com alguns pratos nas mãos. – E hoje, vocês, moças actuais, com essas idades, sois muito mais novas, e ainda com o futuro pela frente! Muita coisa mudou, desde a minha juventude!
-Está bem, mãe! Tens razão! Vou pensar nisso!
Dito isto, Eulália saiu da cozinha para a casa de jantar, com algumas loiças para pôr na mesa. Escassos minutos depois, voltou para a cozinha. Irene acabava de extrair do frigorífico uma grande tigela de salada de verduras, e colocava lá a sobremesa acabada de preparar, a qual necessitava de ficar um pouco ao fresco, até que chegasse o momento de a servir, para que ficasse no ponto desejado. O pai, no quintal da casa térrea, de luzes acesas, vigiava ainda os grelhados  no barbecue.
Eulália voltou à carga:
- Irene: vou-te ser franca! O teu pai falou comigo, esta tarde, enquanto saiste. A razão do Mickael ter vindo cá vê-lo, esta manhã, diz-te mesmo respeito.
- Como assim?
- Ele veio abrir o seu coração perante o teu pai e quis saber se o teu pai concordava  que ele te pedisse para namorarem...
- Ai sim? E o pai, o que lhe respondeu?- Perguntou Irene, ruborizando-se de novo.
- O teu pai disse-lhe que estava de acordo, mas que era contigo que ele devia falar, uma vez que tu és maior de idade, e que cabe a ti decidires directamente esses assuntos que te dizem respeito. Disse-lhe que falasse contigo, para saber se tu também gostas dele...
- E por isso, vem cá jantar? Para falar comigo? Por isso estavas tu própria  a falar-me agora mesmo dele! Estavas a sondar-me, mãe! Confessa!
- Sim! Estava! Por isso mesmo!
-Bom! Ainda bem! Agora, já sabes que também gosto dele... Até que enfim! Tentarei entender-me com ele, sendo assim... Apanhou-me um bocado de surpresa, de início, com as suas atitudes, os seus olhares... Só o estava a ver como um amigo, há uns tempos atrás... Mas as coisas evoluíram entre nós, ao que me foi dado perceber... se agora, ele quer mesmo namorar... a coisa muda de figura...
- Pois muda, filha! Gostas mesmo dele? Tens a certeza?
- Gosto! Claro que sim! Não estou a brincar, nem penso enganá-lo, ou fazer-lhe perder tempo! Espero que ele também não, no que a mim me toca...
- Estás, então, a pensar em aceitar namorar com ele?
-Com certeza, mãe!
A campainha da porta de entrada tocou, nesse mesmo instante, interrompendo a conversa. Irene tirou o avental de fugida, largou tudo, e foi a correr abrir a porta. Mickael, sorrindo, cumprimentou-a com dois beijos no rosto, um deles mesmo ao pé da boca. Irene ficou com a certeza absoluta de que ele tinha vontade de lhe dar outro tipo de beijos... Mickael entregou-lhe, de imediato, um presente muito bem embrulhado, que se revelou ser uma caixa dos melhores chocolates belgas, os seus preferidos: frutos do mar. Ela agradeceu a sorrir, mas ruborizada:
- Obrigada, Mickael! Como sabias que adoro esses chocolates?
- Foi um passarinho que me contou... – Disse o rapaz, com um ar maroto e ao mesmo tempo de mistério.
- Um passarinho, ou um passarão? Talvez que esse passarinho, teu cúmplice, tenha nome... E até julgo que sei de quem se trata: Armando Miranda...- Disse ela, em tom de brincadeira, olhando-o a sorrir.
- Pois foi! – Riu-se Mickael, por sua vez. -Apanhaste-me, Irene! Eu tinha que saber algo acerca das tuas preferências pessoais, para te conseguir trazer um presente ao teu gosto... Então, como o teu pai me convidou, eu perguntei-lhe o que achava que poderia oferecer-te...
-Está certo! Já vi que sabes como agradar a uma rapariga!
- Flores não eram supostas, pois tu já és florista... Chocolates eram, portanto, o presente certo!
- Claro! Tens toda a razão!- Disse a rapariga a sorrir ainda.
Satisfeita, por ver que Mickael fora sincero, e que mostrava preocupação em ser agradável para com ela, Irene ficou ainda mais predisposta a aceitar o namoro com ele. Mickael, por sua vez, ao ver a boa receptividade  de que estava a ser alvo, da parte de Irene, sentia-se agora mais confiante, no tocante à proposta de namoro que lhe iria tentar apresentar nessa mesma noite.
Entretanto,  cada um dos detalhes do que ia sucedendo entre ambos, do que lhe demonstravam as atitudes dele,  no momento presente, dava  a Irene mais vontade de o ter como namorado. Não quisera dizer nada a ninguém, sobre os sonhos que vinha tendo, frequentemente, com Mickael, e em que ele a abraçava e beijava. E agora, os sonhos recentes estavam a pouco tempo, certamente, de se realizarem... Ainda na noite anterior, tinha sonhado com ele! Sonhos doces e românticos que ela ansiava que acontecessem realmente!
O jantar decorreu animado. Depois de, por fim, todos apreciarem devidamente a sobremesa deliciosa, que a própria Irene havia confeccionado, Mickael julgou então propício o momento, para pedir licença, sair, e levar Irene com ele, por um bocado. Achara que essa era a altura ideal de darem ambos um pequeno passeio a sós, ideia com que tanto ela como os pais concordaram. Estava na hora de verificar, por fim, se ele e Irene se iriam mesmo entender... Ao fim e ao cabo, ela era maior de idade, e não iria suceder nada entre os dois, que ela não desejasse. Mickael queria respeitar Irene. Até porque pressentia, agora, que ela também queria que ambos fossem namorados... Os olhares doces e envergonhados dela para ele, os seus sorrisos... tudo, nela, dizia a Mickael que aquela rapariga gostava mesmo dele! E tinham ambos idade e maturidade suficiente para saberem estar a sós, sem interferências, nem preocupação de ninguém.
Então, uma vez a sós, na rua, e a andarem devagar, Mickael decidiu-se:
- Irene, sabes certamente o motivo pelo qual vim jantar hoje convosco, não é verdade?
- Claro que sim, Mickael! Sei que me queres pedir para namorarmos...
-Efectivamente! Só me atrevi a falar com o teu pai, a esse respeito, hoje de manhã, porque notei, na tua maneira de lidar comigo, que não te sou indiferente... Ou estarei enganado?- Perguntou ele, olhando-a nos olhos, um tanto ansioso.
-Não estás enganado, não! – Confessou Irene, mantendo o olhar, mas ficando um tanto envergonhada, e ruborizando-se de novo. Ela nunca tinha tido um namorado a sério, apenas pequenos namoricos sem importância, uns anos atrás... Com Mickael, as coisas iriam, decerto, ser bem diferentes, sérias mesmo. Dali, a rapariga, esperava, por conseguinte, o desenlace de uma proposta de noivado, e inclusive, de um casamento. Tinha muitas expectativas a esse respeito. Foi isso mesmo que ela lhe explicou, de um modo um tanto tímido, a princípio, mas sincero. Ele escutou-a atentamente, e concluiu, então:
-Isso significa que aceitas que namoremos?
- Sim! Aceito, perfeitamente! Digamos que eu até estava à espera que tomasses uma atitude, conforme eu disse há bocado à minha mãe!
- Pois, se querias ver uma atitude da minha parte, aqui a tens! Juro-te que não te arrependerás, Irene! Vou tentar ser o melhor namorado, o melhor noivo possível para ti!
- E eu vou fazer tudo, também, para corresponder às tuas próprias expectativas a meu respeito, Mickael! Só espero que também o possas reconhecer, e que o nosso namoro seja uma benção para nós ambos!
Mickael apanhou a mão dela, prendendo-a com a sua, e levou-a à boca, beijando-lhe as costas da mão, enquanto paravam ambos no meio da rua, e ela sorria, embevecida com tal gesto romântico.
-Irene, posso dar-te um beijo? Não sabes a vontade que tenho de te beijar, querida!
- Podes, sim, Mickael! Eu também desejo isso!- Concedeu Irene, sorrindo e corando,  estando, agora, também ela, desejosa de que Mickael a beijasse.
Então, Mickael abraçou-a, chegando-a mais para junto dele, acariciou-lhe o rosto, devagar,  e os cabelos negros longos e soltos, olhando-a nos grandes olhos cor de avelã, sem pressas, devagar. E, aproximando, então, a sua boca da de Irene, foi aflorando lenta e cuidadosamente os lábios femininos, com os seus, saboreando-os,  e entreabrindo-lhe a boca, por fim, para colar ambas as bocas uma contra a outra, explorando-lhe o interior  da dela com a língua, de modo suave.
Irene deixou-se fazer, deliciada com a ternura com que ele o fazia, e começou também ela a corresponder-lhe às carícias bucais, que duraram algum tempo. Estavam num canto mais discreto de uma rua não muito frequentada. Quando o beijo terminou, Mickael suspirou e disse:
- Que beijo maravilhoso! Meu amor! Adoro-te! Adorei este beijo! Tu correspondeste-me de uma forma tão doce!
-Também eu o adorei,  Mickael! Que bom! Que delicioso! Posso tratar-te por Mika, querido?
- Claro que podes! Como queiras! Estou tão feliz por me aceitares, por me corresponderes, Irene! Muito mesmo, querida!
- Acho que também te adoro, Mika! Nunca conheci ninguém como tu!
-Nem eu conheci nunca nenhuma rapariga como tu, meu amor!
-Eu também estou feliz por namorarmos, Mika! Ainda bem que saímos sozinhos, para podermos confessar os nossos sentimentos um ao outro...
- Sim! Eu ardia de vontade de estar contigo, assim, a sós... De que me aceitasses, de que nos beijássemos, meu amorzinho! Que bom!
- Eu também estava desejando estar a sós contigo, querido! Diante dos meus pais, não estava à vontade...
- Namoro e paixão são coisas para viver a dois, sem necessitar de mais ninguém por perto...
- Mesmo! Não te vais rir, se te confessar algo?
-Rir de ti, eu? Não, nunca! Porquê, meu amor?
-Porque tenho sonhado contigo, Mika! Nos meus sonhos, namoramos e tu me beijas e abraças, como acabaste agora mesmo de o fazer...
- Uau! Fico feliz por me contares isso! Eu também cheguei a sonhar contigo, precisamente a mesma coisa! Vem cá, querida!
Mickael estreitou um pouco mais Irene contra si, e deu-lhe um beijo na testa, perto dos cabelos, suavemente, passando-lhe um braço por cima dos ombros. Irene não esperou mais para passar, por sua vez, o braço pela cintura de Mickael, para seguirem assim pela rua, enlaçados, olhando-se nos olhos, constantemente, e murmurando doçuras um ao outro. Entraram finalmente num café, onde havia pouca gente, e sentaram-se num canto discreto, ao lado um do outro.
Irene preferiu tomar um chá, pois confessou que o café era algo que não a deixaria dormir, se o tomasse àquelas horas... Pelo contrário, seria garantia de uma noite de insónia.  E ela precisava de dormir, para descansar, aproveitando um pouco mais, porque o dia a seguir seria Domingo, e não trabalharia, portanto, na loja de flores. Mickael concordou em absoluto, e também preferiu beber um cálice de licor de whisky, em vez de café.
- Nunca bebi tal coisa! Que tal sabe isso?- Perguntou Irene, curiosa.
- Prova lá, então!- Convidou Mickael, estendendo-lhe o seu cálice, a que não tinha tocado ainda. -Já me dizes se gostas, minha linda!
Irene provou um poucochinho e saboreou o licor adocicado. Gostou.
- Então, minha princesa? Que tal?
- Muito bom! Tens bom gosto!
 -Pois tenho! E ao escolher-te a ti, como namorada, isso também  prova que tenho bom gosto: és linda, doce e inteligente! E ainda por cima, também gostas de mim!
- Claro que gosto! Eu também tenho bom gosto, vês? És lindo, romântico, e um homem com H grande! Querido Mika!
-Adoro quando me tratas por esse diminutivo, e nesse teu jeito doce, cheio de carinho!  Vou passar a tratar-te por Nini, quando estivermos sozinhos! Se gostares,  e aceitares, é claro...
-Que diminutivo tão fofo! E que carinhoso, também! Claro que aceito!
Irene sorriu, bebeu um gole do seu chá, e pausadamente, virou-se por um momento, apanhando algo dentro da mala de mão. Mickael olhava-a, curioso. Sorriu, ao ver o que ela tinha agora na mão: Era um bombom, dos que ele lhe tinha oferecido. Ela tinha metido uns quantos na mala, antes de sair,  sem ele ver. Chegou o bombom ao pé da boca de Mickael, e deu-lho a provar.
- Mmm...  que delícia! -Disse ele, trincando um bocadinho do bombom, de modo guloso, após o que ela meteu o resto na própria boca.
- É mesmo uma delícia! – Concordou a rapariga. E apanhou mais um, que partilharam do mesmo modo.
-Marota! Que gulosa e sensual que és!- Disse-lhe ele, baixinho, ao ouvido... Um dia, quando fizermos amor, vou querer lembrar-me de, também, comermos chocolates destes, partilhando-os, e partilhando também licor deste. Os teus lábios devem saber divinamente, com a mistura de chocolate e licor!
- E os teus, também! Daqui a bocado, poderemos tirar isso a limpo!- Respondeu ela no mesmo tom. Depois, ficou séria, e ruborizou-se, ao dizer, num murmúrio, ao ouvido dele:- Quando é que vais querer fazer amor comigo?
- Algum dia, minha adorada!- Respondeu ele, também segredando ao ouvido dela. E continuou:
-Vamos com calma, querida, que lá chegaremos! Quero muito que façamos tudo decentemente, e a seu tempo! Quero também poder fazer as coisas de modo seguro, sem atropelos, e de forma a podermos desfrutar disso ao máximo, os dois! Não concordas, Nini?
- Está bem, Mika! Claro que concordo contigo, amor!
- Vamos dar mais uma voltinha? A noite está linda, e apetece-me estar contigo, ainda um bocado, mas em outro lugar, a sós, longe de olhos e ouvidos indiscretos...
- Para darmos mais uns beijinhos doces...
-Sim, querida! É isso mesmo!
Saíram, depois dele pagar a conta, e voltaram a ir pela rua, abraçados, até chegarem a um jardim. Num certo sítio desse jardim, havia um abrigo natural,  que Mickael conhecia, e onde alguns casais de namorados se escondiam, por vezes, em busca de privacidade. Era formado por alguns arbustos, que ocultavam da vista exterior um banco. Constituía, assim, uma espécie de nicho. Ali, ao abrigo de olhares indiscretos, com a cumplicidade da escuridão da noite, e a pouca iluminação local, sentaram-se e beijaram-se intensamente. Ficaram algum tempo abraçados, em silêncio, gozando  essa sua intimidade recente. Irene decidiu então dizer algo que achou importante:
 -Mika: eu sou virgem, sabes? Nunca fiz amor com ninguém...
-Ainda bem, querida! Eu saberei ser paciente e cuidadoso, sendo assim, quando chegar a hora de termos intimidade física! E fica sossegada, que não vai ser já! Mas agradeço que te tenhas guardado até agora! Pois fizeste-o para mim!
- Sempre achei que devia continuar virgem até casar!  A possibilidade de intimidade física, do dom do meu corpo, a um possível parceiro, sempre foi para mim, algo muito sério! Acho que é algo a ser muito bem ponderado, e que só está certo ao abrigo de um casamento!
- E pensaste muitíssimo bem! Eu também sou da mesma opinião! Se tudo continuar a correr bem, entre nós, havemos de nos casar, meu amor! Depois, então, pertenceremos um ao outro, sem barreiras, nem problemas! Com todo o nosso amor, e respeito mútuos!
E por ali ficaram, mais uns momentos, beijando-se apaixonadamente, sem ninguém  ver nem espiar aqueles doces abraços e beijos, que dispensavam testemunhas.
 Os dias seguintes foram trazendo algumas mudanças na vida social de Irene. Pois em vez de sair tanto com as suas amizades como antes, tinha, forçosamente de ter muita disponibilidade para estar com Mickael, o que, para ambos, era fundamental, fora das muitas horas de trabalho de ambos, e da vida e convívio familiar. Os telemóveis de ambos enviavam agora frequentes mensagens carinhosas, diariamente. Encontros e saídas eram combinados constantemente.
As duas amigas mais chegadas de Irene, Sarita e  Marta, comentavam, certo dia, entre si:
- Já viste a sonsa da Irene? Parecia que não partia um prato! E zás! De repente, arranja um namorado!
 -Pois! Mas também, o que lhe deu, para aceitar aquele gajo, tão mais velho do que ela? Estará assim tão faltada de namorado?
- Aquilo foi namoro arranjado pelos pais! Não ouviste o que ela disse, outro dia? Que o namorado que ela agora tem, é colega do pai dela!
-Está na cara que ele cobiçou-se dela, e os pais dela concordaram com isso!
-Mas, apesar de ser mais velho, isso não é defeito: ele tem maturidade, ao menos!
-E o gajo é lindo! Que pedaço de homem!
-E um bom partido, ao que parece!
- Agora, ela já quase não vai querer sair connosco...
-Bom... Se calhar não pode...
- Pois é!Pensando bem, certamente, que, se alguma de nós duas tivesse namorado, também não teríamos tanto tempo disponível, para sairmos juntas...
- Sim, lá isso é verdade!
-O que importa é que ela seja feliz!
-Parecem gostar tanto um do outro!
-Ele parece doido por ela!
-Pois parece, efectivamente!
-E ela também anda doida por ele!
-Pois anda!Ela é boa moça! Merece ser feliz!
-Também acho!
Entretanto, o clima era de romance intenso entre os dois apaixonados, que decidiram, passado pouco tempo, avançar com o noivado, e marcar a data do casamento. Os pais de Irene rejubilavam com isso, tal como os de Mickael, que viam, por fim, o filho mais velho decidido a casar-se, e que engraçavam bastante com Irene.
Quanto ao casal de apaixonados, Mickael e Irene queriam organizar a vida de ambos, de modo a viverem juntos, quanto antes. Faziam muitos planos, que eram discutidos entusiasticamente entre ambos, e depois submetidos às opiniões de ambas as famílias. Mickael havia já apresentado Irene a seus pais. A jovem havia sido muito bem recebida pela família dele. Faltava só pôr os respectivos pais em contacto uns com os outros, para que os planos relativos ao casamento fossem postos em execução.
Uma tarde, Mickael disse a Irene:
- Querida, precisamos de falar com os teus pais sobre o assunto da nossa futura habitação.
-Certo, Mika!
- Gostaria que tanto tu, como os teus pais, me acompanhassem a visitar uma casa que recebi, recentemente, de herança dos meus avós. Necessita de algumas obras, afim de a preparar para ser uma habitação condigna para nós, depois de casarmos... Vou querer as opiniões deles, principalmente a do teu pai, que é um entendido em arquitectura e construção civil!
- Onde fica essa casa?
 - A poucas ruas daqui donde estamos! Queres ir vê-la, já?
- Sim, claro!
Encontravam-se, naquele momento, na loja de florista de Irene, sozinhos. Eulália havia tido de sair, por algum tempo, a tratar de alguns assuntos referentes ao negócio. Era de tarde. Como estava já na hora de fechar, embora a mãe não estivesse ali, Irene decidiu fazê-lo, e telefonar à mãe. Esta não atendeu o telefone. Irene enviou-lhe uma mensagem.
Saíram, e foram ver o que, afinal, era um belo casarão, antigo e nobre, mas, realmente, a precisar de algumas obras, pinturas, adaptações. Irene gostou, no entanto, da casa.
Estavam lá dentro, sozinhos. A claridade já era pouca. Parando, de repente, de falar da casa, olharam um para o outro, e abraçaram-se, como já o faziam constantemente. Era irresistível a paixão que os dominava, e o desejo constante de se beijarem e acariciarem, sempre que se encontravam a sós, ao abrigo de olhares ou presenças indiscretas.
- Querida! Apetece-me levar-te a passear, sozinhos os dois, ao campo, no meu carro! Que achas? Aceitas a proposta?
- Aceito, pois! Quando e onde?
- Quando estivermos de folga ambos! E vamos por aí, pela serra algarvia, a descobrir as belas paisagens que poderemos encontrar... Gostas do campo, Nini?
 -Adoro! É tranquilizante, é lindo!
- Também acho! Que tal se passássemos a nossa lua de mel num lugar desses?
- Onde?
- Num desses palacetes antigos,  no meio da serra, reabertos e adaptados como hotéis de turismo rural, com todo o conforto, e todo o sossego, para estarmos só nós dois, todo o tempo que nos apetecer...
- Que ideia maravilhosa!
- Vou mostrar-te alguma da informação que encontrei a esse respeito, e vais ver, vais adorar, tal como eu adorei!
Mickael pegou no seu telemóvel de última geração, e fez uma pequena busca rápida. Depois, mostrou o que encontrara a Irene. A rapariga foi vendo, com seu noivo, todas as fotos e informação escrita que iam descobrindo.
- É fabuloso! Mas que maravilha! E sai muito mais barato do que viagens ao estranjeiro! Aqui, ao menos, estamos em terra nossa, à vontade!
- Foi isso mesmo que pensei, querida! Não perderemos tanto tempo precioso, em viagem. Não nos cansaremos em vão, com transportes demorados e perigosos!  E teremos muito mais tempo para estarmos a sós, nós dois! E num ambiente calmo, paradisíaco!
- Cada dia gosto mais de ti, Mika, do que tu programas, do que tu imaginas e do que tu demonstras, com tudo isso, a meu respeito, meu amor!
- Tudo o que eu possa fazer por ti, é pouco, Nini! Adoro-te! Quero muito que sejamos felizes juntos!
Olharam um para o outro, com paixão, e mais uma vez, beijaram-se com entrega total. Uma terna amizade incipiente havia-se transformado em paixão, para aqueles dois seres, que viviam, agora, um para o outro. Só se sentiam felizes e realizados estando juntos. O futuro sorria-lhes, como o sol, quando brilha intensamente, em dia de Verão.

FIM

Nely, 
Março de 2017

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