“A hora da partida soa quando...” – Sophia de Mello Breyner Andressen,
Antologia, p. 67
HORA IMPREVISTA
A hora da partida soa, quando,
No mundo, se vislumbra outro amanhã,
E os sonhos vão-se avolumando,
Numa ilusão feliz, mas sempre vã...
A hora da partida soa, quando
Julgamos, mais ainda, poder ter,
Da Vida, que nos foi sempre adiando
O ser feliz, fazendo-nos sofrer!...
A hora da partida soa, quando,
Ébrios da dor deste existir,
Que a Vida nos vem prolongando,
Ainda cremos na ventura que há-de vir!
A hora da partida soa, quando,
Enamorados deste breve instante,
Que o respirar nos vai alimentando,
Esquecemos que a Vida é inconstante...
A hora da partida soa, quando,
Renovada a teimosa esperança,
Continuamos, iludidos, aguardando,
A desejada, e tão feliz mudança!
A hora da partida soa, quando
Nada, mas nada, mesmo, faz prever,
Que o tempo que se vem aproximando,
Vai nossa despedida promover.
Nely
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