« De
nada serve estar sentada num jardim primaveril, quando uma nuvem pesada de
inquietude vem escurecer o azul do sonho. » -Berthe Bernage
O
AMOR TUDO VENCE
-Tem calma, amor! Não chores!
Tudo se há-de resolver! Vais ver! - Disse Lúcio, tentando confortar Mónica.
Rodeou os ombros da
namorada, que nesse momento chorava, desgostosa e tensa, e beijou-a docemente.
Ela entregou-se a esse beijo com desespero. Lúcio adorava Mónica. O namoro
deles durava já cinco anos, com o conhecimento das respectivas famílias, e com
o projecto de casar assim que lhes fosse possível. Somente estavam esperando
que Lúcio terminasse o seu estágio profissional, do curso superior de
engenheiro electrotécnico, que seguira, em Évora. Havia pouco tempo - alguns
meses - Lúcio e Mónica, apaixonados como estavam, haviam resolvido avançar com
a sua intimidade física, devido à saudade crescente que sentiam um do outro,
motivada pelo afastamento prolongado durante os vários períodos de estudo de
ambos. Mónica havia decidido tomar a pílula, para evitar uma possível gravidez,
até que ambos tivessem condições para casar e ter o seu próprio lar. Lúcio
concordara prontamente, pois, dos dois, só Mónica conseguira já um emprego.
Cerca de um ano antes, empregara-se na redacção de um jornal local, em Faro,
depois de concluir os seus estudos, na área de comunicações. A sua formação
académica fora de menor duração que a de Lúcio, e em Portalegre. Tinham sido
tempos difíceis para ambos. Mas ambos sabiam que valera a pena o sacrifício,
tanto dela como dele, de submeter-se a essa distância, e dos pais de ambos
pagarem tão dispendiosa formação. Graças ao seu empenho, e à sua habilidade
natural para as artes, e para a comunicação social, obtivera belíssimos
resultados académicos. Fizera o estágio
pedagógico num pequeno museu farense, logo seguido do estágio professional,
numa empresa local, ligada às artes. Depois, obtivera de imediato a
possibilidade de integrar a equipa de um jornal semanário local, em Faro.
Sabiam ambos que ainda não tinham meios suficientes para avançar com a vida a
dois. Esse objectivo estava ainda difícil de cumprir, da parte de Lúcio: ele só
conseguira, até ali, trabalho precário, no Verão, apesar dos seus estudos quase
completos, na área de electrónica.
Naquele
momento, estavam os dois sentados num banco de jardim, perto do Arco da Vila,
na zona histórica de Faro. Não havia ninguém por perto, naquela hora da tarde.
Mónica tinha saído do serviço às cinco, e passando por uma farmácia, adquirira
um teste de gravidez. Fora para casa, e, felizmente, estivera sozinha, pois os
pais não estavam lá naquela hora. Fizera havia pouco o teste, e acabara de
descobrir, sem lugar para dúvidas, que estava grávida, mesmo tomando a pílula.
Isso a deixava confusa, e ao mesmo tempo, perplexa, e apreensiva.
-Não sei o que fazer!
Tenho que informar os meus pais disto… Não vão gostar de certeza!
Principalmente a minha mãe, com aqueles preconceitos que tem contra esse tipo
de coisas…
-Querida, eu também vou
ter de informar os meus! Que pensas fazer, quanto a esta gravidez inesperada?
-Que penso eu fazer? Como
assim? – Reagiu a jovem, espantada com a pergunta, inesperada, da parte do
namorado, que depois dos seus pais, amava mais que tudo na vida. Para ela, a
questão tinha uma resposta óbvia e inquestionável.
-Pensas assumi-la e
mantê-la até ao fim, ou pensas abortar? Preciso de saber o que decides, para
ter uma ideia do que vou responder aos meus pais, quando mo perguntarem por sua
vez… E também para definir de vez o que faremos ambos… Como iremos resolver
essa situação?
-Ai, Lúcio! Abortar, não!
Nem pensar! Nem me fales em tal! Isso até me mete medo!
- Pronto! Querida, eu
também não gosto nada dessa hipótese! Queres então ter o nosso bébé, não é
verdade?
- É claro que quero ter o
nosso bebé! É fruto do nosso amor! Mesmo que tenha surgido antes do tempo que
pensávamos esperar para que viesse! Tu também o queres? Concordas?
-Claro que o quero e que
concordo! Não duvides! Mas a decisão mais importante é a tua, amor! És tu que estás
grávida! Por isso to perguntei! Podias não querer prosseguir com ela! No
entanto, seja o que fôr que decidas, vais ter todo o meu apoio, querida! Sabes
que te amo, e que a responsabilidade, quanto a esse assunto, também é
minha, mesmo que tenha,
actualmente, poucos meios financeiros para te apoiar! Mas, decerto, os meus
pais tentarão ajudar-nos, de algum modo! Eles são muito mais liberais do que a
tua mãe, nesse campo!
- Ainda bem! Quero
prosseguir com a gravidez, sim! Mesmo que toda a gente possa estar contra, vou
ter esse filho! No fim de contas, eu trabalho, e hei-de dar um jeito de andar
para a frente com a vontade de ter e criar o nosso filho!
- Pronto, meu amor!
Calma! Concordo inteiramente contigo! Além do mais, esse filho é de ambos!
Gerámo-lo juntos! É uma decisão que envolve uma vida humana nova! Não é nenhuma
brincadeira! Não é reversível! Trata-se de uma decisão que temos de tomar
juntos, para o futuro, para o resto das nossas vidas!
-Que bom que é saber que
posso contar contigo! Se assim não fosse, ficaria muito triste, acredita!
- Não te vou desamparar
agora! Nem nunca, se depender da minha vontade! Tenho tanta responsabilidade,
com esse filho, como tens tu! És uma mulher valente, e corajosa! Admiro-te,
sabes? E mesmo que toda a gente possa estar contra ti, eu estou contigo! Adoro-te,
meu amor! Agora, acalma-te, sim?
- Eu também te adoro,
Lúcio! Também te admiro muito! És um homem lutador, destemido, e bem vejo,
pelas tuas atitudes, que me amas muito, que me queres proteger e ajudar! Meu
amor! Só o teu carinho me acalma, mesmo! Só fico bem contigo por perto!
Lúcio beijou-a de novo,
apaixonadamente, apertando-a carinhosamente contra si. Acariciou-lhe os cabelos
castanhos sedosos, docemente. Pensava, nesse momento, que desde que
prosseguissem juntos, nunca se cansaria de fazê-lo. E também de ter a sua
namorada em seus braços, de acariciá-la, de fazer amor com ela, de tê-la junto
dele. Adorava-a, e agora, punha todo esse amor nos beijos e carícias que lhe
dava. Sabia que tinha de ser ele, enquanto homem, a ser o mais forte, a ampará-la
a ela, mulher, como mais fraca. Queria protegê-la. Ela sentia-o, e por isso, os
beijos e abraços de Lúcio lhe sabiam tão bem, a acalmavam tão rapidamente, por
serem tão carinhosos e espontâneos, sinceros. Ela também o adorava a ele, e
tentava, com toda a sua alma, transmitir-lho, entregando-se-lhe totalmente,
como já o havia feito, na intimidade. Se o preço era ter engravidado e ter de
assumir isso, ela não recuava.
-Querida, eu estou aqui,
contigo, e não te vou deixar só! Prometo! Precisas de ter paz e tranquilidade,
para que fiques bem, e que a gravidez decorra sem problemas! Eu vou fazer tudo
o que me fôr possível para que isso se concretize da melhor forma! Acalma-te, e
não temas!
- Sim, querido, prometo
que vou ter calma! É bom poder contar contigo, e é isso, o que mais me importa!
Podemos ir tomar algo? É que saí à pressa de casa, para vir ter contigo, depois
de fazer o teste, e nem sequer comi. Então, agora, estou com tonturas, com
fome, e também um pouco agoniada…
- Claro que sim, querida!
Vamos até uma pastelaria! Não muito longe daqui, há uma… Tomas o que te
apetecer!… Mas, se calhar, devias tomar também um café, na minha opinião! Deves
estar com a tensão baixa! Ainda bem que estou contigo, para o caso em que te
sintas prestes a desmaiar!
- Sim, Lúcio! É isso
mesmo! Vamos! Ajuda-me, por favor! Preciso de me apoiar em ti, amor!
Lúcio ajudou-a a
erguer-se do banco, e rodeou firmemente, com um braço, a cintura de Mónica,
agarrando-lhe a mão com a que ele próprio tinha livre. Sentindo-se um pouco
fraca, zonza, a jovem foi andando devagar, apoiada nele.
Lúcio sentia-se um tanto atarantado com a
situação, mas nada faria com que ele deixasse de dar todo o apoio que pudesse a
Mónica, que, junto com os seus pais, era quem ele mais amava. Esta era uma
prova difícil. Mas ele estava convencido de que, com amor, tudo se poderia
resolver. Sentia que Mónica estava fragilizada, carente, e nesse momento,
cabia-lhe a ele, por muito difícil que fosse, dar-lhe forças, transmitir-lhe ânimo. Devia
provar-lhe, agora mais do que nunca, que a amava de verdade. Devia acarinhá-la
o mais possível, de modo que ela sentisse esse amor, e pudesse apoiar-se nele,
neste momento de fragilidade e carência afectiva. Ele devia ser firme, e forte,
para tal. E carinhoso ao máximo, com ela, sem reservas. No fim de contas, sabia
que Mónica merecia esse amor e dele necessitava.
Cerca de uma hora mais tarde, Lúcio foi com
Mónica a casa dos pais dela, para falarem sobre a situação surgida. Não quis
deixar a rapariga enfrentar sozinha a mãe, que sabia terrível, dominadora,
repressiva, e, por vezes, mesmo rixosa. O pai dela, esse, pelo contrário, era
um homem calmo, liberal.
O clima, ali, tornou-se
depressa opressivo e tempestuoso. Lúcio ficou horrorizado com o que presenciou.
Após as primeiras explicações, de ambos, para com os pais da sua noiva, Dona
Lobélia, mãe de Mónica, passou-se por completo e deu largas à sua ira:
- Filha minha não pode
aparecer grávida antes de casar! Que vão dizer as pessoas? A minha comunidade
da Igreja vai ficar toda escandalizada, se o souber! Mesmo que casasse já,
enquanto não se nota, depois acabava-se por se saber tudo! Que vergonha! Que
falta de moral!
- Ó mãe! Francamente!
Falta de moral, porquê? O que lhe importa mais? Eu, e a minha felicidade, ou o
diz-que-disse da sua comunidade? Além disso, não ando, nem nunca andei, por aí com
tudo o que é rapazes! Só me relaciono com o Lúcio, e é ele o pai deste bebé! É
o único homem da minha vida! Não tenho que ter vergonha disso, pois não fiz mal
a ninguém!
- Como te atreves? Desavergonhada!
Estás a faltar-me ao respeito!
Lúcio não aguentou
tamanha injustiça, e respondeu por Mónica:
- Desavergonhada, não,
Dona Lobélia! A Mónica era virgem quando se entregou a mim, e eu também o era,
quando fiz amor com ela! Além disso, já tinha intenções de casar com ela, tal
como ela comigo, e ambos mantemos essa intenção! Pertencemos um ao outro, e
queremos prosseguir a nossa vida juntos!
- Não podiam ter
esperado? Depois de casar tinham tempo de fazer a sem-vergonhice!
- Sem-vergonhice, seria se
eu ou ela andássemos por aí, a fazer sexo à toa, onde e com quem calhasse! Não é o caso, nem meu, nem dela! Nós amamo-nos
e não nos andamos a expôr! Fizemos tudo discretamente! - Ripostou, indignado,
Lúcio.
Dona Lobélia, furiosa,
apostrofou-o, com prepotência:
-Cala-te, rapaz! Aqui,
quem manda, sou eu, e amanhã mesmo vou marcar uma ida a Beja, numa clínica
privada, para lhe fazerem um desmancho!
Lúcio e Mónica ficaram
inicialmente sem palavras, boquiabertos, perante tal desfaçatez e prepotência:
Aquela mulher estava a atropelar tudo e todos, sem deixar hipótese a ninguém, e
chegava ao cúmulo de ser mal-educada, e má!
Mónica lançou então um
grito de dor que lhe saiu de dentro:
-Nãããããooooooo!
Foi secundada por Lúcio
que também gritou:
-Nuncaaa!
Depois, comentou, irado:
- E diz a Dona Lobélia
que a sua filha lhe está a faltar ao respeito? Grande lata! A Senhora é que está a faltar-lhe ao respeito a
ela, e a mim também, com essa sua prepotência e essa atitude inqualificável!
Safa!
Foi, então, a vez
do Senhor Elói, pai de Mónica, intervir.
Ele tinha estado muito calmamente escutando tudo, mas acabara por
passar-se, também ele, e com razão, perante o comportamento da esposa:
- Mas tu estás louca,
mulher? Tu tens noção do que estás a dizer e a pretender fazer? A tua filha já
não é nenhuma adolescente, aos vinte e dois anos! Para além disso, já trabalha, e o Lúcio
tampouco é
nenhum irresponsável! Se esse bebé
surge, agora, assim, mesmo com ela tomando a pílula, foi porque Deus determinou
assim! Ou será que tu não páras, para pensar que a vontade divina pode ser
diferente da humana? Não posso estar de acordo com o que pretendes fazer-lhe!
Não a podes obrigar a fazer um aborto! A decisão, de dar ou não, um passo
desses, é
dela e do Lúcio, apenas! Nunca tua! Nem te deves sequer intrometer entre eles!
E se ela pretendesse fazer tal coisa, eu mesmo estaria contra!
- Estás do lado deles, é? Que falta de vergonha e de moral! E
tu apoias, pelos vistos!
-Apoio, pois! Falta de
moral tens tu! Estás eivada de preconceitos, mas até admira não os teres contra o aborto,
sendo tão católica como és!
De que te serve, afinal, ires, ao Domingo, bater com a mão no peito, na missa,
e depois, em casa, teres atitudes destas com a tua filha? Deverias ter
vergonha, tu, sim! Unicamente tu! Hipócrita! Que preconceituosa! Pessoalmente,
não considero que eles tenham feito nada de mal! Eles amam-se, é perfeitamente normal, natural, direi
eu, pertencerem um ao outro! Além
disso, a geração deles não é
a nossa!
- Já disse! Ou ela vai
desmanchar essa gravidez, ou…
-Ou o quê?
-Ou o quê?
-Ou o quê?
Três vozes fizeram-lhe a
mesma pergunta, em simultâneo, chocadas…
- Ou, então, ela sai
desta casa e nunca mais pra cá volta! Não a quero voltar a ver, nem a ele, se
ela não me obedecer! Que vergonha!
- Vergonha, isso sim, vai
ser para ti, quando toda a gente souber o que estás a fazer à tua própria
filha, e o que pretendes obrigá-la a fazer, ainda por cima, algo que a Igreja
condena! Até a tua comunidade vai apontar-te com o dedo! Não vais escapar às
críticas, que não vão ser nada suaves! Hipócrita!
- Banana! Frouxo!
Consentido! É por tu seres assim que ela chegou a este ponto! - Ripostou
Lobélia.
O marido reagiu, já
enfurecido, levantando-se da cadeira onde estava sentado, frente aos jovens:
- Basta! Nem uma palavra
mais, Lobélia! Não me achincalhes assim, que não o mereço! Ainda por cima,
diante da Mónica e do Lúcio! Perdeste a cabeça por completo! Não me faças agora usar a violência contigo, já que nunca o fiz!
Embora, agora, até mereças um par de estalos nessa cara! Já chega de
prepotência e estupidez! Não vou consentir que ponhas a nossa filha na rua,
como se fosse um cão! E muito menos que a leves a fazer um aborto! Nunca! Só
por cima do meu cadáver!
-
E só por cima do meu, também! – Insurgiu-se Lúcio, indignado.
Foi a vez de o Senhor Elói
prosseguir:
- E sempre gostaria de
ver a cara do padre Felício, se lhe fossem contar que uma das suas paroquianas
pretende obrigar a própria filha a fazer um aborto! Ele havia de ficar muito
satisfeito, sem dúvida! Que raio de valores morais são esses que tens dentro?
Monstro! Que é que tu aprendeste nas reuniões da tua famigerada comunidade?
Aprendeste o farisaísmo e a hipocrisia, foi?
- Elói! Mas… não
acredito! Estás a desautorizar-me diante da nossa filha e do rapaz?
- Estou, pois, Lobélia!
Já que tu própria te estás desautorizando com as tuas atitudes! E, decerto, te
esqueceste que quem deve mandar, na realidade, aqui em casa, devo ser eu? Tu
mesma me estás desautorizando a mim perante eles, o que considero vergonhoso! Até
aqui, não te disse nada, porque não tinhas chegado a estes extremos! Mas eu não
posso, de forma alguma, deixar-te prosseguir com essa loucura monstruosa!
Mónica, ouvindo isto,
olhou para o pai e respondeu-lhe:
-Obrigada, Pai! Mas,
sabes, agora, sou eu que não quero mais ficar aqui! Vou-me embora!
- Então, filha?! Para
onde vais? - Perguntou o Senhor Elói, desgostoso e apanhado de surpresa.
- Vou embora, Pai!
Desculpa, mas o clima está insuportável nesta casa, e não consigo cá
permanecer, nem mais uma hora que seja! Ou ainda me dá uma coisa má, e aí, então,
é que perco o bebé, e vai ser pior! Ainda não sei para onde vou, já verei isso
junto com o Lúcio!
- A Mónica vai comigo! Está
decidido: havemos de arranjar sítio onde ficar! - Respondeu Lúcio, olhando
frontalmente para o Senhor Elói.
Mónica prosseguiu:
-Ainda antes de virmos
para cá, Pai, tive uma tontura, na rua e estava agoniada! Se não fosse o Lúcio,
nem sei o que me teria acontecido! Já estava mesmo a prever que este pandemónio
ia suceder! Só não esperava que a mãe me quisesse obrigar a fazer essa
barbaridade! E agora, uma cena destas! Não me sinto nada bem! Obrigada, no
entanto, por defender-me, Pai! Não vou esquecer isso!
Lúcio achou por bem
intervir, novamente, para sossegar Elói:
- Ela pode ir comigo,
para casa dos meus pais, se eles estiverem de acordo! Senão, a gente
desenrasca-se, os dois juntos, em qualquer pensão, se fôr preciso! Fique
descansado, Senhor Elói! Eu não vou deixar a Mónica sozinha, seja onde fôr, nem
a vou desamparar! Juro! Seria mesmo incapaz de o fazer! Outra coisa, é que, se
ela não estivesse a trabalhar no jornal, levava-a comigo, já, para Évora, e ela
ficava por lá comigo, todos os dias, até que eu acabasse o meu estágio
profissional! Mas, já que ela tem o seu próprio trabalho aqui, vamos tentar
resolver a situação o melhor possível! Também, são só mais uns meses! E virei
cá todas as vezes que me fôr possível!
- Bom, nesse caso, tomem lá
então, este dinheiro, para ajuda de qualquer despesa dessas que tenham de
fazer… Mas digam-me algo, senão fico em cuidados! - Respondeu Elói, apanhando
algumas notas da carteira, que extraíra nesse momento do bolso. Mónica aceitou
o dinheiro, guardou-o na sua própria mala e disse:
- Obrigada, Pai! Agora,
se me dás licença, vou fazer as malas, e o
Lúcio vai ajudar-me. Ainda bem que viemos no carro do pai dele, emprestado!
Lúcio, eu posso adiantar as minhas férias, se fôr preciso, e ir contigo, se
quiseres!
- Depois decidiremos
isso, querida! Agora, Senhor Elói, quero informá-lo desde já, que vamos, em
primeiro lugar, falar com os meus pais! Depois mantê-lo-emos ao corrente do
local para onde iremos ambos, e o que faremos!
- Certo!
-Mas um aborto está, absolutamente,
fora de questão! Eu e a Mónica tínhamos acabado de falar nisso, antes de cá vir,
e somos unânimes, quanto a esse assunto: Já que esse filho vem a caminho, que
seja bem-vindo! Ambos o desejamos! E quanto à Dona Lobélia, se não se
arrepender rapidamente dessa sua atitude, certamente que, depois, vai ser tarde
demais!
- E porque teria eu que
me arrepender do que digo e penso? Mantenho a minha opinião! Uma filha solteira
grávida é uma vergonha na minha casa!
-Que pecado, fazer tal
coisa à sua própria filha única! Uma mãe, que é sempre a pessoa que se espera
que nos deva amar mais que tudo na vida, e proteger-nos! Que classe de mãe é
você? Que insensibilidade! Só pensa no seu umbigo! Não se dá nem sequer conta
do mal que já lhe está causando! A Mónica até se sente mal! Por sua causa! Um
dia, os remorsos vão dar cabo de si! Vai ver!
Mónica estava
efectivamente aflita, tremendo, e a ponto de quase desmaiar, devido a ter o
sistema nervoso descontrolado por causa da situação. Lúcio amparou-a,
ajudando-a a estender-se no sofá maior da sala, enquanto o pai foi, muito
rapidamente, buscar um copo de água com açúcar, e uma toalha humedecida, que
Lúcio começou a passar-lhe pelo rosto.
Ditas estas palavras
indignadas, do rapaz, Lobélia olhou-o altivamente, sem lhe responder sequer. E,
saindo da sala onde estavam todos, meteu-se no seu próprio quarto, batendo
fortemente com a porta, sentindo-se derrotada, impotente e furiosa.
Enquanto Mónica bebia a água com açúcar que o
pai lhe trouxera prontamente, este foi buscar a uma gaveta do móvel da sala, o
aparelho de medir a tensão arterial, que ali arrecadava, usualmente. Após medir
a tensão da filha, e verificar que estava um pouco baixa, recomendou-lhe,
carinhosamente:
- Não ligues à tua mãe! Verás
que isso tudo logo lhe
passa! Estou cá eu, para a manter nos eixos! Se quiseres, ficas aqui! Senão,
vocês é que sabem! Mas, peço-vos
para eu ser mantido ao corrente da situação, ok?
-Ok, Pai! A minha decisão
está tomada!
Eu vou com o Lúcio, para onde pudermos encontrar sítio onde pernoitar!
Necessito ficar a sós com ele! Agora, preciso separar algumas coisas para levar,
se não te importas…
- Claro, filha! Vai lá,
então! Que hora esta, meu Deus!
Entretanto, Lúcio e
Mónica foram meter, em malas e sacos, tudo o que ela achou necessário levar.
Antes de sair,
despediu-se do pai, pedindo-lhe que guardasse tudo o que ela agora não podia
levar, e não deixasse a mãe jogar as suas coisas fora, debaixo do orgulho e da
ira. O pai prometeu-lho e, fechando ele mesmo à chave a porta do quarto da
jovem, entregou-lhe a chave para a mão. Era a garantia, para ela, de que tudo o
que ali ficava seria respeitado. Então, despediu-se dela com um abraço.
Rumaram, de seguida, a casa da família de
Lúcio. Um ambiente e um acolhimento bem diferentes os aguardavam ali.
-Mãe! Pai! Trouxe comigo
a Mónica! Precisamos ambos de ter uma conversa muito importante convosco!
- Olá, Mónica! Olá Lúcio!
Entrem! Venham cá para a sala! - Respondeu Lisete, mãe de Lúcio, com um
sorriso, cumprimentando tanto Mónica, como o próprio filho.
Quando estavam já bem
sentados, junto com os pais dele, Lúcio expôs-lhes claramente a situação dele e
de Mónica, assim como tudo o que acabara de ocorrer em casa de sua noiva, sem
nada omitir.
- Mas isso é monstruoso!
- Exclamou Josué, pai de Lúcio, escandalizado. – Como é que a tua mãe pôde
tratar-te assim, querida?
-Por nossa parte, e penso
que o Josué não me desmente, podes contar connosco! O que pensam vocês fazer
agora, Lúcio? - Perguntou a mãe dele.
-Mãe e Pai: A Mónica
precisa de um lugar onde ficar, não só para pernoitar hoje, mas também, onde
morar! A mãe expulsou-a de casa! O pai opôs-se a essa sua atitude, mas nem a
Mónica, nem eu, queremos, já, que ela fique lá, pois ela não se sente
tranquila, nem segura, naquele ambiente! Iria pôr em risco a gravidez, a saúde
dela e a vida do bebé, se lá ficasse, com a mãe a implicar com ela.
- Tens razão, filho! E
tu, Mónica, fazes bem de sair daquele ambiente! Além disso, irias ter um
dia-a-dia, na tua gravidez, de nervosismo e tensões que não te iriam fazer nada
bem! A tua mãe está a ser intransigente e preconceituosa ao máximo! Esses
preconceitos são completamente absurdos e obsoletos! - Reagiu Lisete.
Lúcio prosseguiu:
-Eu não a vou deixar só!
Pensei em trazê-la esta noite para cá, se vocês estiverem de acordo, e que ela
fique aqui comigo, até eu voltar para Évora! Entretanto, vamos tentar arranjar
outro lugar, pois ela não vai mesmo voltar para casa dos pais! Nem eu próprio
deixo! Nem que a venham cá buscar!
-Muito bem! Nós também
não deixamos que ninguém faça nada contra ti, Mónica! Podes contar connosco,
querida! – Prosseguiu Josué, enquanto Lisete concordava com um gesto de cabeça.
-A Mónica vai precisar de
um lugar onde morar, e para onde levar o nosso filho, assim que nasça! O pai
dela está de
acordo, e pediu para o informarmos do que decidíssemos, depois de falar
convosco! Entretanto, queremos que vocês saibam que assim que eu termine o meu
estágio, iremos casar! Um simples casamento civil, nada mais! Em vez de gastar
balúrdios, num casamento caro e cerimonioso, aproveitamos o dinheiro de que
disporemos, para organizar a nossa vida a dois, e também preparar tudo para a
vinda do bebé!
O Senhor Josué, olhando
benevolamente para Mónica, e depois, para o seu próprio filho, disse:
-Está muito bem pensado!
Vocês podem ficar juntos aqui, até tu voltares para Évora! Mónica: por nós, podes
ficar aqui connosco, mesmo na ausência do Lúcio, se quiseres! Se vês que não estás
à vontade connosco, compreenderemos, e se preferires arranjar o teu próprio
espaço, estaremos aqui, na mesma, para o que necessitares! Só tens que
telefonar, mandar uma mensagem, e ajudar-te-emos no que fôr preciso! Ou podes,
mesmo, vir cá, quando quiseres! Estaremos em contacto constante contigo, e ao
teu dispôr! Para já, é uma alegria que nos dão, tu e ele, de sermos em breve avós!
- Obrigada! O meu pai
também nos quer ajudar! - Respondeu Mónica com um sorriso fraco, sentindo-se
sem forças de novo. Os nervos e o cansaço que a acometiam eram evidentes.
- Óptimo! -Respondeu
Josué.
-A Mónica precisa de ser
vista por um médico! Ela sentiu-se mal, há bocado! - Lembrou subitamente Lúcio,
ao ver a cara de cansaço e a palidez de sua noiva.
- Podemos pedir,
imediatamente, uma consulta domiciliária! Quem é o teu médico, Mónica? -
Interveio, solicitamente, Dona Lisete.
-É a Doutora Marília
Fontinha…
- Ela dá consultas a
domicílio?
-Penso que ainda o faz,
sim!
- Mónica, tens o contacto da Doutora? -
Interessou-se Lúcio.
-Sim! Está aqui, no meu
livro de endereços e telefones, deixa-me cá verificar… Sim, cá está! -respondeu
a jovem, remexendo na sua mala.
De imediato, trataram de
contactar com a referida médica de família.
Pouco depois, esta última
estava observando Mónica, na privacidade do quarto de Lúcio, onde só se
encontravam os dois jovens, e decretou que ela devia fazer exames, e descansar
o mais possível, durante o fim-de-semana prolongado que tinham pela frente. E
que tomasse o medicamento que ela lhe prescrevia para a tensão arterial, assim
como vitaminas. Se houvesse algum problema, Mónica não deveria hesitar em contactá-la,
fosse a que horas fosse. A Doutora Marília estava, também ela, escandalizada
com a Dona Lobélia, e disse nunca esperar um comportamento desses, da parte
dessa senhora, que também era sua paciente.
Depois da médica ir
embora, e de Lúcio ir prontamente a uma farmácia, aviar a medicação prescrita
para a sua noiva, Josué convidou os jovens para irem, com ele e sua esposa,
jantar fora, para desanuviarem um pouco. Assim fizeram.
Nessa noite, e nas
seguintes, durante cerca de uma semana inteira, comeram e dormiram ali, e de
dia, procuraram uma habitação. As rendas eram pouco acessíveis. Finalmente, foi
uma amiga e colega de Mónica, do jornal,
a Luísa, que se lembrou de lhes propôr que dividissem com ela o
apartamento onde vivia. Assim, nenhuma das duas estaria só, sairiam todos a
ganhar com isso, e Lúcio poderia também ficar com ela, sempre que viesse passar
uns dias a casa. Os pais de Lúcio e o próprio pai de Mónica poderiam visitá-la,
sem problemas, as vezes que quisessem. Mónica havia cumprido com o prometido a
seu pai, e ele ficara mais aliviado ao saber que a situação estava a
resolver-se. Entre ela e Lúcio, com o carro do pai dele, que os ajudou, foram
buscar os restantes pertences de Mónica, que haviam permanecido intocados, no
quarto trancado dela. A mãe, sabendo que eles lá iam, saíra, para não os encarar.
O seu impiedoso orgulho, e os preconceitos de uma educação demasiado severa e
cheia de falsos moralismos, estavam cavando um fosso intransponível entre ela e
Mónica. E também dilacerando a relação com o próprio marido.
Passaram os meses...
Lúcio, empenhado mais que tudo, em terminar airosamente o seu estágio, ia e
vinha sempre que podia, e ficava com Mónica, todo o tempo que lhe era possível,
ainda que também visitassem ambos a casa dos pais dele, e que Mónica tentasse
também manter-se em contacto com o pai... Tentara voltar a falar com a própria
mãe, por mais do que uma vez, sem sucesso, pois D. Lobélia continuava
irredutível... Esta deixara de frequentar a sua comunidade religiosa, depois de
ter sido visitada em casa pelo próprio padre Felício. Isto aconteceu após a
denúncia de outras pessoas, que depressa haviam sabido do sucedido,
escandalizadas com aquele seu comportamento impróprio de uma cristã católica. O
padre a admoestara a arrepender-se e pedir perdão a Deus, por seu comportamento
em família, e por escandalizar a comunidade, declarando-a, dali em diante, em
disciplina, por algum tempo, e exortando-a severamente. Mesmo assim, o seu
orgulho continuava a prevalecer.
Lúcio chegou, certa
tarde, de Évora, expectante, sabendo por uma mensagem de Mónica, no telemóvel,
que esta estava indo para o hospital, já prestes a ter o bebé...
Ele e Luísa, depois de
ele avisar também os seus pais, e o pai de Mónica, estavam os dois na sala de
espera da recepção do hospital, aguardando notícias, da parte de funcionários
dessa secção do hospital, os quais tentavam entrar em contacto com a secção de
maternidade, para saber quando poderiam deixar subir visitas para a jovem.
Finalmente, perto da hora
de jantar, que coincidia com a hora das visitas, Lúcio conseguiu ir ver Mónica,
sabendo, desde já, que ela já dera à luz uma menina. Eufórico, subiu no
primeiro elevador disponível, e procurou, na secção de maternidade, pelo quarto
onde a sua noiva se encontrava.
Ao entrar no
compartimento, finalmente, deu com Mónica deitada na cama, perto da janela. Ao
lado dessa cama, no berço, estava a menina, a sua filhinha, com quem ele ia
agora travar conhecimento, vendo-a por primeira vez.
Dividido entre a vontade
de se debruçar sobre a sua filhinha, ou abraçar Mónica, acabou por, primeiro,
apertar em seus braços a sua noiva, e beijá-la ansiosamente. Mónica suspirou,
feliz e cansada, entre os seus braços, durante um longo momento, devido à
saudade e à necessidade de sentir o conforto dos braços de Lúcio, e dos seus
beijos. Então, mais calmamente, Lúcio desviou o carrinho onde estava o
tabuleiro com o jantar de Mónica, que ainda não tinha conseguido erguer-se para
comer. Mónica, sentada na cama, foi-se erguendo devagar, amparada por Lúcio e,
já de pé, tomou a menina em seus braços, depositando-a cuidadosamente nos
braços de Lúcio.
-Que nome vamos dar à
nossa princesinha, amor?- perguntou Lúcio, olhando embevecido para a filhinha
tão pequenina e tão frágil, como se fosse uma bonequinha, que o olhava curiosa,
caladinha.
-Se estiveres de acordo,
pensei em chamar-lhe Lara!
-Lindo nome! Tens bom
gosto, querida! Mas, onde foste buscar esse nome tão invulgar?
-Lembras-te do filme
“Doutor Jivago”? A apaixonada dele chamava-se Lara, era loira, e era linda!
-Sim, lembro! Realmente,
tinha um nome belo, e era interpretada por uma lindíssima estrela de cinema:
Julie Christie!
Sentado numa cadeira ao
lado da cama, manteve a menina no colo, enquanto Mónica comia conforme
conseguia, o jantar, que apanhara já do carrinho, sentada também ela, numa
outra cadeira, junto à pequena mesa disponível aos pés da cama.
- A Luísa está lá em
baixo, à espera, para ver se consegue vir cá acima também. E os meus pais estão
aguardando notícias... –lembrou-se Lúcio, de repente.
-Então, é melhor desceres
um pouco, e depois voltas, só para deixares a Luísa vir ver-nos, está bem,
amor? Vou ficar com pena de teres de ir para baixo, mas eles, aqui, não deixam
fazer de outra forma...
-Certo, querida! Vou para
baixo, para dar um pouco a vez à Luisa, e entretanto, vou telefonar aos meus
pais, e ao teu, para lhes dar a novidade. Depois, teremos de combinar com eles,
para a visita de amanhã também! Vá! Até já, minhas princesas!
Lúcio pousou com mil
cuidados a menina no berço, depois de lhe dar vários beijinhos ao de leve. E,
dando um beijo suave no rosto de Mónica que estava a comer, deixou-as com um
sorriso. Saíu dali depressa, indo ter com Luísa, e passando-lhe a vez de
visita, combinando com ela, para depois voltar ele lá acima, a despedir-se de
Mónica.
Passaram-se cinco dias, e
Mónica já estava de regresso, com a pequenina Lara, ao apartamento dividido com
Luísa. Os pais de Lúcio haviam-na visitado várias vezes nesses dias, assim como
Lúcio e o próprio pai de Mónica. D. Lobélia era, ainda, a grande ausente.
Vítima do orgulho, que dificilmente controlava, e dos remorsos, pela forma
estúpida e cruel com que tratara a filha, não se atrevera a ir visitá-la.
Cuidava que Mónica não lhe perdoaria pela sua atitude. Confessara-se ao padre
Felício, arrependida, chorando. Este exortara-a, agora de modo mais afável,
aconselhando-a a ir visitar a filha, e pedir-lhe também a ela perdão, afim de
se reconciliarem ambas.
Entretanto, Lúcio, já com
o estágio terminado, acabara de, numa dessas tardes, a seguir ao regresso a
casa de suas amadas, entrar em casa eufórico, pois conseguira arranjar um
trabalho que, embora ainda não fosse aquilo que almejava, lhes iria facilitar
um pouco a vida, dali em diante.
-Querida! – Havia dito
ele, abraçando Mónica, todo sorridente, vamos poder procurar um apartamento ou
uma casinha para nós, a partir de hoje! Acabo de arranjar um trabalho!
Luísa estava presente e
sorrindo, brincou:
- Já me querem deixar
sozinha, hã? - E prosseguiu: -Mas eu quero continuar a estar em contacto
convosco! Olhem lá, não esqueçam que eu quero ser madrinha da menina!
-Mas claro que sim!
Teremos também, de lhe arranjar um padrinho! Mas, desde já, fica combinado e
prometido: serás tu a madrinha da Lara!
-Podes vir visitar-nos
sempre que queiras, Luísa! Tu, para nós, és da família!
-Obrigada! É bom ouvir
isso! Vocês, para mim, também são da família! Vou ter saudades, mesmo assim,
quando sairem daqui!
-Vamos ver se conseguimos
fazer tudo junto: o nosso casamento, mais o baptismo da Lara! - Continuou
Mónica.
-Isso é que era uma ideia
fenomenal para pôr em prática! - Respondeu Luísa.
Assim sucedeu, poucos
meses depois: Mónica e Lúcio foram viver para uma casinha que alugaram, com um
pequenino pátio ajardinado à frente, e celebraram o seu casamento e o batismo
da sua filhinha no mesmo dia, numa cerimónia discreta. Entretanto, D. Lobélia,
vencendo finalmente o seu orgulho, humildou-se a pedir perdão aos seus
familiares, em primeiro lugar a Mónica e Lúcio. Mónica, que amava a mãe,
perdoou-a de bom coração. Passaram, desde aí, a ser uma família feliz.
FIM
Nely,
Outubro de 2017
(Do meu livro de Contos "Novo Rumo")
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