Conto nº 9
A INTERCESSORA
(Sequência
do conto “Alma à Deriva”)
Sentada
à mesa da sua salinha de estar, Eunice, de mãos postas diante de si, de olhos
fechados, estava orando a Deus. Concentrada, recolhida, aproveitava esses
momentos do dia em que ninguém lhe batia à porta. Todos sabiam, na aldeia, que,
depois do almoço, Eunice gostava de estar a sós com Deus, e que esses seus
momentos eram para ela sagrados. Noutras horas do dia, muitas vezes lhe batiam
à porta. Umas vezes para lhe pedir ajuda ou conselhos. Outras, para ir ajudá-la
em algumas coisas de que ela necessitasse. Também lhe traziam peixe fresco, já
amanhado, da pesca diária, ou algum cozinhado que houvessem acabado de
confeccionar. Todos na aldeia eram seus amigos e a tratavam com carinho. O respeito pela sua idade
avançada também lhes incutia ajudá-la em tudo quanto ela necessitasse. Os mais
jovens tributavam-lhe uma admiração e
reverência profundas.
Nessa
hora de recolhimento, Eunice estava derramando a sua alma em preces. Falava a
Jesus de si mesma. Sabia que Deus lhe
proporcionara uma vida longa, trabalhosa, mas dedicada. Cumprira o melhor que
soubera com tudo o que lhe surgira para fazer, ao longo da sua extensa vida, e
seguia cumprindo. Sabia que algum dia teria de partir, e que a sua hora final
neste mundo soaria. Não a afligia o facto por si mesma. Mas sabia que ia deixar
vago um lugar que mais ninguém, naquela terrinha humilde, teria capacidade para
ocupar. E afligia-a ter de deixar, a partir daí, sem auxílio, sem conselho, os
seus amigos aldeões.
Marinela
e Túlia eram visitas diárias, habituais.1 Marinella ajudava nos afazeres da
casa. Túlia, a sua amiga cigana, viúva, trazia-lhe as compras necessárias.2
Ambas eram mulheres entre os quarenta e os cinquenta anos. Eunice já ia nos
seus oitenta e muitos... Lúcida, ainda que já com menos energia, Eunice saía,
de forma limitada, embora diariamente. Andava um pouco, pela estrada principal da aldeia. Descia devagar
os degraus de pedra que levavam à praia. Havia, perto da sua casa, um miradouro
onde ela gostava de sentar-se, algumas vezes, junto ao farol, e olhar para o mar.
Às
vezes, via Marinela descer por ali, passear, dar voltas sobre si própria,
cantando e fazendo gestos de palco. Marinela havia sofrido muito, mas estava
quase completamente restabelecida. Eunice ajudara-a o quanto havia podido. E
seguia orando por ela. Marinela ainda gostava, também, de vir a sua casa. Compreendiam-se ambas muito bem. Túlia também
se dava muito com ambas. Entre Eunice e Túlia, crentes convictas em Deus,
haviam ajudado Marinela a encontrar o seu verdadeiro caminho.3
Mas antes disso, muito antes, Eunice
tivera muitas almas pelas quais
interceder, com oração e súplica, diante de Deus. Quantas almas aflitas não encaminhara Eunice? Por quantas não
implorara a Misericórdia Divina? Não desistia de ninguém, nem negava
assistência a quem quer que fosse. E quando o mar se tornava em furiosa tempestade, quanto intercedera ela pelos desafortunados
pescadores, que arriscavam a vida, para ir para a sua faina marítima?!
Eunice
só aceitava pequenos e modestos presentes, nunca pagamentos monetários. Ficava
feliz tão somente de vê-los voltar às suas casas, sãos e salvos. Pois
regozijava-se em saber que as suas preces eram atendidas.
Quantas
noites se pusera ela de joelhos, intercedendo por qualquer daqueles que sabia
estarem em aflição?!
Houvera
o caso de Olinda, uma jovem mulher da
aldeia, que quase morrera de parto, havia poucos anos. E que as súplicas e os
esforços, a nível profissional, de Eunice, haviam contribuído para que se
salvasse. Houvera também dois pescadores desaparecidos, que todos julgavam já
mortos, afogados, e que, por milagre, haviam regressado a casa, após terem
ficado retidos num ilhéu das proximidades, até a maré baixar, e serem
encontrados, passadas algumas horas, quase a morrer de frio, mas ainda assim,
vivos!
E
tantos outros casos!... Crianças em perigo de morte, com doenças para as quais
ainda não havia vacinas... Sempre de joelhos, de mãos postas, Eunice, fechada
em sua casinha, no promontório vizinho da praia, perto do farol, orava:
- Senhor meu Deus, tem Misericórdia!
Não te peço nada para mim! Sei que me cuidas! Mas te peço por esta pessoa....
(E citava a criança, o homem ou a mulher, e até mesmo a família em aflição)...
O certo, é que Deus ouvia-a! E lhe respondia com a Misericórdia, a Justiça, o
Amor que ela esperava d’Ele.
Todos, na aldeia, a conheciam como a
“Grande Irmã”, uma espécie de “Madre Teresa de Calcutá” local.4
A
alta e esbelta figura de Eunice, como
por milagre, se mantinha direita, apesar dos anos. A sua farta e comprida
cabeleira ruiva, sempre penteada do mesmo modo, com um carrapito, que em
espanhol se chama “moño”, e que formava como que um caracol enrolado e preso na
nuca, fora ficando totalmente branca, com o passar dos anos. A sua pele fina e
muito branca fora ficando marcada de sulcos e finas rugas. Só os olhos azuis
claros haviam conservado a sua luz alegre e viva. Eunice era uma pessoa viva e
alegre. Tinha um espírito jovem.
Mas,
afinal, quem era esta mulher tão singular? Eunice era uma pessoa que havia
feito um voto de celibato perante Deus. Não professara como freira. Não
concordava, pessoalmente, com a existência de vida conventual. Para ela, não
era necessário ser freira para dedicar-se aos outros. Em nova, havia sido
enfermeira. Pronunciara, de todo o coração, o juramento de Florence
Nightingale, grande pioneira das
enfermeiras, ao começar a sua carreira profissional5.
E mantivera-se fiel a esse juramento. Havia, assim, sido enfermeira, desde a
sua juventude, até à sua reforma. Cumprira tudo isso, muito séria e
dedicadamente, como um apostolado. Depois de reformar-se, retirara-se para
aquela aldeia, de onde a sua família era natural. Os seus parcos recursos
financeiros, devido à sua vida simples e
pacata, bastavam-lhe para viver. Tinha
apenas algo de diferente em relação a
qualquer mulher daquele lugar: sendo um tanto excêntrica, usava vestidos de
sevilhana, garridos, em tons alegres.
-
Porque hei-de usar roupas escuras, se eu não gosto de cores escuras? –
Perguntava a quem lhe falasse em tal assunto. – A vida deve ser alegre! Eu
gosto de cores alegres e vivas, como tudo o que existe na Natureza!
-Ai...
e tal... a Senhora já não tem idade para essas roupas...- aventurara-se uma das
aldeãs a dizer-lhe, quando ela, com sessenta anos, ainda aparecia vestida de
azul claro e branco. A pessoa em questão era mais nova do que Eunice, e
vestia-se de cores pardacentas e trajes antiquados, sem graça nenhuma.
Alegremente,
Eunice insurgira-se contra tamanho preconceito da sua interlocutora:
-
Não tenho idade? Que conversa vem a ser essa? Quantos anos tem o Céu? E o mar?
E não continuam a ser tão azuis como
sempre foram? E as flores? E as ervas do
campo? Acaso não continuam a nascer nas mesmas cores? Eu sou como elas: uma
criação de Deus! Não há idades para uso desta ou daquela côr!
E com este discurso lógico e simplista, calara
a outra, a qual nunca mais lhe fizera tal conversa. Ao longo dos anos, todos os
habitantes da aldeia se haviam acostumado a vê-la com os seus vestidos
compridos, de cores alegres, e os seus xailes
a combinar. E não estranhavam: Eunice era assim mesmo! E não eram vestidos velhos, os que ela usava:
Eunice sabia costurar. Herdara uma antiga máquina de costura de sua mãe. E
comprava tecidos belos, quando, de vez em quando, levada de boleia no carro de
alguma daquelas famílias da aldeia, se deslocava à cidade, a fazer compras.
Confeccionava ela própria as suas belas roupas, que sempre estavam ajustadas ao
seu corpo esbelto.
Havia
frequentemente um sorriso, naquele rosto marcado pelo tempo, mas belo. Os seus vivos
olhos azuis sorriam tanto como os seus lábios finos. Sorria aos jovens, às
crianças, aos mais velhos... Todos gostavam de Eunice naquele lugarejo. Todos a veneravam e acatavam as suas
opiniões, como sendo as de uma pessoa
sábia, experiente. Os jovens, quando
regressavam da escola, ao fim de cada tarde, não perdiam tempo a expôr dúvidas
a seus pais: Eunice era a pessoa certa para os elucidar nalguma dúvida que
tivessem. Pois sabiam que Eunice estudara, na sua juventude.
Possuía conhecimentos de que mais ninguém, na aldeia, era detentor. E respondia
sempre com muito agrado a qualquer pergunta que lhe fosse feita. Eunice não
tinha falsos pudores, e ensinava também as raparigas da aldeia, no tocante a
tudo o que dissesse respeito a assuntos íntimos femininos. Tornara-se a
confidente ideal de algumas das jovens que, com propensões românticas próprias
da adolescência, lhe submetiam os seus primeiros poemas... Falavam-lhe dos seus
diários íntimos, iniciados havia pouco
tempo, dos seus namoros, das suas ansiedades de jovens... Eunice dava conselhos
a todas as que lhos pedissem... E gratificava-as sempre com um sorriso gentil. Não
julgava ninguém, pois afirmava sempre que, para julgar, está Deus. E que a
missão dela era simplesmente ajudar, na medida das suas capacidades.
Em
toda a aldeia, não havia uma adolescente ou jovem mais velha que não visitasse
Eunice, levando-lhe frequentemente um ramo de flores campestres (coisa que
Eunice adorava), e que não se sentasse à
sua mesa, diante de uma boa chávena de chá, acompanhada de bolinhos que elas
próprias confeccionavam, ou compravam, e levavam-lhe de bom coração. Eunice
aceitava isso muito naturalmente. Essas sessões de tomada de chá, entre
mulheres, eram muito bem vindas de sua parte, e incentivava-as a voltar a sua
casa, sempre que o desejassem ou necessitassem.
As
adultas da aldeia, mulheres sofridas, pediam-lhe, muita vez, mezinhas antigas,
caseiras, ou algum outro remédio para as suas maleitas; uma gravidez
inicialmente indesejada passava a ser algo digno de festa. A alegria e o
espírito positivo de Eunice derrubava o mau humor, a tristeza, os receios...
Ervas aromáticas diversas, que ela lhes fornecia, fervidas em chá, davam remédio a dores de barriga, períodos
atrasados, e outras coisas do mesmo estilo. Eunice ralhava-lhes bondosamente,
incutindo-lhes mais fé! Nunca incentivara nenhuma delas a abortar, bem pelo
contrário! Ela celebrava alegremente a vida, embora nunca tivesse sido mãe. Falava-lhes
da Palavra de Deus, e demonstrava-lhes, com Ela, a Vontade Divina, em
relação a esses assuntos. Havia
sabedoria em suas palavras.
Até
os homens da aldeia sabiam que podiam confiar em Eunice, sabendo também, desde
havia muito tempo, que dali só seriam ouvidos conselhos sábios e de pura e
genuína amizade. Por isso, Eunice era amada e respeitada por todos eles,
naquele lugar onde vivia.
Voltemos,
no entanto, a essa tarde em que Eunice,
a sós com Deus, derramava a sua alma perante Ele.
Depois
de orar algum tempo, Eunice, de posse de algumas respostas da parte de Deus, decidiu pedir uma reunião
com todos os moradores da aldeia. Vendo que Eunice avisara de que se tratava de
algo muito sério, acorreram todos prontamente, tanto jovens como gente mais
velha.
-Meus
queridos amigos – diz Eunice, diante de todos eles ali reunidos – Vou ser
directa. Todos vós sabeis que a minha idade já vai bastante avançada. Entendo,
pois, que devo tomar certas disposições antes de partir deste mundo. Há coisas
que, certamente, deverão constar de um testamento. Não tenho já nenhuma
parentela, como sabeis, tendo sido filha única de meus pais. Mas há coisas que preciso deixar escritas
perante um notário...
-Amiga
Eunice, se quiser, chamamos cá o notário, e ele vem cá!- Opina um dos
pescadores, de nome Mário.
-
Podem também levar-me lá ao cartório, nalgum dos vossos carrinhos, que eu pago
a despesa, e ainda será melhor! – Replica Eunice.
-Claro,
claro! E ele há-de lhe prestar todo o esclarecimento e toda a informação que
fôr preciso!- responde Zé, outro dos pescadores mais velhos.
-
Quero tomar disposições, enquanto ainda estou viva, quanto a esta casa. Se
possível, para que fique como um lugar de acolhimento e socorro de quem o
necessite. Ou até, e também, para reuniões, para todos vocês, quando houver
coisas a decidir entre todos!
-
Belíssima ideia!- Opina Túlia. – E podemos decidir, também, assim, quem
cuidará desta sua casinha!
-
Isso, vocês todas, com a concordância dos homens da aldeia, podereis decidi-lo
em conjunto.- Responde Eunice. -Peço-vos, portanto, que continueis a vir aqui,
e podereis cá orar; podereis aqui acolher quem seja necessário acolher!
Durante
alguma conversa mais, Eunice indagou às mais jovens da aldeia sobre quais
delas estariam de acordo em herdar os seus vestidos sevilhanos, os seus xailes
e colares, que ela desejava que não fossem levados dali, nem jogados fora.
Todas concordaram em receber pelo menos um cada uma. Mesmo que não os
vestissem, ou usassem, guardá-los-iam com todo o carinho nos seus baús, como
recordação.
Havia
também um belo espólio, de livros, uns mais antigos, outros mais recentes, e de discos
de música clássica. Ficaria ali tudo isso, à disposição de todos, para
ser utilizado pela comunidade, sempre que quisessem ou disso necessitassem.
Podiam ficar ali, a ler, o tempo que fosse preciso, ou a escutar a música,
quando assim o determinassem.
Dias
depois, Eunice preparou, com ajuda do notário da cidade mais cercana, o seu testamento.
A
sua casinha, quando ela partisse, passaria a pertencer à comunidade de
pescadores, a quem ela a legava, assim como todo o seu conteúdo. Com a condição
de que mantivessem a casinha cuidada e limpa, e formassem quanto antes uma
associação, também ela reconhecida no notário.
A essa próxima associação, Eunice legava fundos monetários, provenientes
das suas economias, após retirar apenas o necessário para o seu funeral, para quando
esse ocorresse. E deviam ficar dois ou três dos pescadores como responsáveis
pelo cumprimento dessa cláusula. Eunice deixava como última vontade sua que o
seu funeral teria de ser algo humilde e simples, querendo que os seus restos
mortais fossem para o chão. Nada de luxos.
-
Flores, por favor, prometam-me que as deixam aqui, em jarras! Para que esta
casinha continue alegre, como sempre! Façam-no em minha memória! Não precisa
florir campas no cemitério! Sabem que detesto isso!
-Prometido,
querida Irmã! Foram várias vozes unânimes a responder-lhe em coro.
-
E venham tomar chá aqui, entre vários de vocês, sempre que assim o entendam!-
Pediu ela.
Tudo
foi tratado e disposto conforme Eunice desejava...
Até que um dia, alguns meses depois, Eunice
foi espiritualmente avisada de que estava chegando a hora. Já que queria
despedir-se dos seus amigos, Deus mandou
que os chamasse. Eunice assim fez.
Quis sair para o terraço, rodeada por todos eles, velhos e novos. Estava
bem vestida e composta. Era aquela a roupa com que deveria ficar. Estava
pronta.
Sentada
no terraço, rodeada por todos eles, cuja maioria tinha a expressão séria ou até
lágrimas a assomar nos olhos, ela sorria-lhes, animava-os: Não os queria ver
tristes naquela despedida! Viu então dois anjos de vestes resplandecentes,
saindo de uma viatura que parou ao lado da sua porta. Tinha sentido a sua proximidade ainda antes
de vê-los. Formulou uma prece em voz baixa. Marinela apercebeu-se da situação
também, tal como Túlia.
-
Meus queridos: chegou a hora! Já sabem o que têm a fazer quando eu deixar o
corpo! Não chorem por mim! Fui muito feliz, tive uma vida longa! Obrigada a
todos pelo vosso carinho, respeito e amizade! Mas está na hora de partir!
Adeus, meus queridos! Pensem em mim, e sigam o meu exemplo! Continuem sendo
unidos! Eu vou continuar a ser feliz, lá com Deus! Adeus! Adeus!
Marinela,
então viu: os anjos ampararam por instantes Eunice, cuja alma deixou o corpo,
com um leve estremecimento deste. Havia agora duas Eunices: uma sorridente, de
pé, apoiada nos anjos que a rodeavam, e
a qual lhes acenava, sorridente, indo embora devagarinho, dali para a
viatura celestial, e coberta de uma linda túnica alva e resplandecente. Toda
ela brilhava. A outra Eunice, corpo já sem vida, com o seu vestido de
sevilhana garrido, e tornando-se rapidamente duro, recostada na cadeira, com a
cabeça pendida para um lado.
Marinela
sorriu tristemente, tal como Túlia. A sua grande amiga e irmã Eunice
deixara-os!
Eunice
partiu assim, para a Eternidade, rumo ao seu Eterno Lar, ao encontro de Jesus,
que lá a esperava de braços abertos! Ela
cumprira integralmente o seu longo apostolado. Agora, estava na hora de receber
a sua recompensa, a sua coroa de Glória!
A
comunidade de pescadores e aldeões subsiste ainda. Tudo tem sido feito como
Eunice havia disposto. E a sua linda memória
continua viva, naquela aldeia, e naquela casinha do promontório junto ao farol.
FIM
Nely,
16 de Agosto 2017
Anotações
:
1)
e
2) :Ambas as personagens, assim como a personagem Eunice, fazem parte do conto
escrito e apresentado anteriormente, intitulado “Alma à deriva”.
3): Conforme descrito no conto “Alma
à Deriva”, em que Marinela é a personagem principal.
4) Pormenor referido no conto “Alma à
Deriva”.
5) Florence Nightingale, célebre
pioneira originária de famílias ricas inglesas, criou e instituiu esse
juramento, que era obrigatório e ritual no início de carreira de qualquer
enfermeira antigamente, tal como os médicos proferiam o juramento de
Hipócrates.
ver : https://pt.wikipedia.org/wiki/Florence_Nightingale
Advertência: Tal como o conto precedente, esta história é ficção integral, na sua totalidade.
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